A pílula anticoncepcional está presente na sociedade desde 1960 e daí em diante o medicamento feminino passou a ser uma forma de controle de natalidade e as mulheres começaram a ter uma certa autonomia sobre o momento em que queriam se tornar mães. Além do contraceptivo oral existem diversos métodos capazes de inibir a reprodução feminina. De acordo com a lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) dos 20 métodos contraceptivos enumerados só dois deles são para uso masculino. Mas, qual é a razão de existir só alguns para homens? Por que não há anticoncepcional masculino?
Esse foi alguns dos questionamentos respondidos por Adam Watkins, professor de Biologia Reprodutiva da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, durante entrevista para a BBC News Mundo. Segundo ele, a ideia de desenvolver um anticoncepcional masculino existe quase a tanto tempo quanto o do anticoncepcional feminino. O professor também diz que o principal desafio médico está no fato da mulher liberar um óvulo por mês, enquanto o homem produz milhões de espermatozoides por dia. No entanto, mesmo que o homem perca 90% da sua capacidade de produzir espermatozoides ele continua sendo fértil.
"Acho que se esse desenvolvimento não aconteceu efetivamente foi por causa do sucesso da pílula anticoncepcional feminina. Ela funciona tão bem e é tão eficiente que, do ponto de vista econômico, muitas empresas farmacêuticas não veem a necessidade de investir em uma nova" afirma, Adam Watkins.
Mercado
A pílula anticoncepcional é usada por 214 milhões de mulheres ao redor do mundo, gerando um mercado de US$ 18 milhões por ano. Já em relação ao mercado nacional, houve um aumento de 8% nos últimos cinco anos. Os primeiros resultados de 2000 registram um crescimento ainda maior: 5,5%, comparando-se com o mesmo período de 1999.
Segundo a Celsam (Comitê Científico do Centro Latinoamericano Salud y Mujer) os países que mais consomem pílulas na América Latina são Uruguai, Brasil e Chile. A região conta com cerca de 116 milhões de mulheres e apenas 10% utilizam o anticoncepcional para o controle de natalidade, cerca de 12 milhões de usuárias.
Camisinha e Vasectomia
Pode ser que o contraceptivo mais antigo da história seja a camisinha. Isso porque, existem referências a quase 2 mil anos antes de Cristo de métodos que foram usados para o controle da natalidade por meio de um material que faça uma barreira física, na anatomia masculina, entre os espermatozoides e o óvulo.
No século 18, introduziu-se o que ainda é o último avanço no campo masculino: a vasectomia, procedimento cirúrgico que interrompe o suprimento de espermatozoides ao sêmen, por meio do bloqueio dos vasos deferentes.
A possibilidade de um contraceptivo masculino
O avanço da pílula anticoncepcional feminina já na metade do século 20, fez com que a busca por um medicamento equivalente ao público masculino começasse. "Em teoria, tentar (controlar) a produção de esperma deveria ser um processo simples. A biologia da produção de espermatozoides e de como eles nadam até o óvulo é bem compreendida", esclarece Watkins.
Nesta perspectiva, atualmente, estão sendo desenvolvidas duas áreas de pesquisa, uma focada na contracepção hormonal, com hormônios sintéticos (artificiais) para deter temporariamente o desenvolvimento de espermatozoides sadios, e outra focada em técnicas que evitem que os espermatozoides sadios entrem na vagina e consigam fecundar.
Entretanto, a possível criação de uma pílula masculina acabou passando por certos obstáculos, um deles sãos os efeitos colaterais causados por alguns componentes. Em 2016, um estudo que injetou em homens testosterona e progestógenos similares aos hormônios da pílula feminina teve de ser interrompido. "Viu-se que que havia efeitos colaterais - como espinhas na pele, transtornos no estado de ânimo e aumento na libido - que os homens consideraram fortes e intoleráveis, o que levou ao cancelamento do estudo", explica Watkins.
No entanto, o professor de Biologia Reprodutiva, Adam Watkins, diz que: "Muitos especialistas podem ver esses efeitos colaterais como relativamente pequenos em comparação com os enfrentados pelas mulheres que tomam pílula - de ansiedade a aumento de peso, dor de cabeça, redução da libido e coágulos sanguíneos."
A isso, dizem especialistas, se soma o fato de a camisinha ser um método barato e sem efeitos colaterais. "A camisinha, além disso, não serve só para o controle de natalidade, como também para prevenir doenças sexualmente transmissíveis - o que também evitou que se buscasse uma saída (contraceptiva) do lado do homem", afirma Adam.
Contraindicações do anticoncepcional feminino
Embora o consumo do anticoncepcional feminino controle da natalidade e tenha outros benefícios para as mulheres que fazem uso, existem as contraindicações que podem causar: doença tromboembólica, acidente vascular cerebral, tumor de fígado, função hepática comprometida, lúpus eritematoso sistêmico, carcinoma de mama (tumor), entre outros.
Apesar de boa parte dos efeitos colaterais ainda não ter sido comprovada cientificamente, já foi verificado a ocorrência de náuseas, aumento de peso e dores de cabeça. Alguns estudos apontam outros problemas com o uso do produto: depressão, mastalgia (dor nos seios) e hipertensão.
Diante desse quadro, o parecer de um ginecologista é fundamental. Somente esse profissional terá condições de orientar e escolher corretamente o produto a ser consumido. Consultas e exames periódicos para acompanhar a reação do organismo da paciente ao medicamento também podem evitar problemas.
Benefícios do anticoncepcional feminino
Como foi mencionado acima a principal vantagem do anticoncepcional é o controle de natalidade, mas, o contraceptivo também pode auxiliar em outros problemas. O efeito antiandrogênico, por exemplo, ajuda a combater certas manifestações como a acne e a oleosidade do cabelo e da pele. Além disso, diminui os sangramentos da mulher, reduz os riscos de anemia, regulariza o ciclo, estabiliza o crescimento de miomas e alivia as cólicas e as tensões pré-menstruais. Outros benefícios são a redução no risco de câncer endometrial e ovariano, na ocorrência de doenças benignas de mama e de cistos ovarianos. Diminui ainda crises de artrite reumatóide e é indicado em hiperandrogenismo ovariano.
Expectativas para o futuro
O professor de Biologia Reprodutiva, Adam Watkins, e a médica Lisa Campo-Engelstein, diretora do Instituto de Bioética e Humanidades da Saúde da Universidade do Texas (EUA) acredita que a pílula masculina ainda se tornará uma realidade.
"Acho que tem havido mudanças que farão as farmacêuticas dedicar mais recursos a isso. E há muitos homens dispostos a tomar (a pílula), porque isso lhes daria controle sobre seu corpo", opina Watkins.
O docente ressalta dois esforços que podem tornar-se base para um método eficaz e seguro: a pílula dos "lençóis limpos" (em inglês, clean sheet pill) e o "vasagel". A pílula dos "lençóis limpos" funcionária limitando a liberação de esperma e, ao prevenir a saída de espermatozoides e do líquido que os transporta, evitaria gestações indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis. Mas, até o momento, essa pílula só foi testada em animais, e estima-se que seja necessário mais uma década para estar apta para uso humano.
"E o 'vasagel' é uma substância de polímeros injetada na área genital, especialmente nos vasos deferentes, onde o sêmen é transportado. Embora permita o movimento do líquido, ele detém a passagem de espermatozoides", relata Watkins.
De acordo com o ponto de vista da pesquisadora Lisa Campo-Engelstein, ainda será necessário ter mudanças sociais, e não só avanços científicos. "Como questão de justiça social, devemos avançar em direção a uma responsabilidade contraceptiva compartilhada", defende.
"Para tal, precisamos dedicar mais recursos ao desenvolvimento de métodos anticoncepcionais para homens. Mas se não houver mudanças nas normas de gênero dominantes quanto à saúde reprodutiva, me parece pouco provável que os homens usem a contracepção no mesmo ritmo que as mulheres, mesmo que os métodos existam", ressalta Lisa.
Certamente levará um tempo até ser elaborada uma pílula anticoncepcional ou um contraceptivo masculino, mas, enquanto isso não acontece a indústria farmacêutica continua avançando e aprimorando seus produtos e medicamentos. Nesse sentido, cabe ao profissional da farmácia estar atualizado acerca dos medicamentos que surgem ou dos métodos que são aprimorados.
Portanto, se você atua na área da Farmácia e deseja aprimorar seu conhecimento e se tornar um (a) especialista em gestão farmacêutica saiba que o Instituto Monte Pascoal tem a pós-graduação certa para você. Matricule-se na especialização em Farmácia Clínica com Ênfase em Prescrição e Serviços Farmacêuticos, e Gestão Farmacêutica "Dupla Certificação". Dê um passo à frente na sua carreira profissional e faça a diferença no mercado de trabalho.
Fonte: BBC News e BoaSaúde
Imagem: 123RF