A interação medicamentosa costuma ser conhecida como um evento clínico em que a ingestão de um fármaco é afetada pelo consumo de outro fármaco. No entanto, essa interação pode ocorrer de diferentes formas, por exemplo, entre fármaco e fitoterápico, bebida alcoólica, agente químico e também entre medicamento e alimento, podendo ocorrer de maneira favorável ou prejudicial.
A maneira de administração do medicamento e a interação pode ser afetada por outros três fatores, tais como: o tipo de nutriente ingerido; a quantidade de líquido utilizada na administração do fármaco; o intervalo de tempo entre a ingestão das substâncias. Além disso, pessoas com idade mais avançada apresentam riscos maiores em relação às interações, já que há mudanças fisiológicas em razão do envelhecimento e é comum o uso de vários medicamentos de uso contínuo nessa fase da vida para tratamento de doenças crônicas.
Duplicação
Em situações, na qual, dois medicamentos contendo o mesmo efeito são tomados, seus efeitos colaterais podem ser intensificados. Essa duplicação pode acontecer quando as pessoas tomam dois medicamentos que têm o mesmo ingrediente ativo por engano. Nos casos assim, normalmente, ao menos um deles é de venda livre. Por exemplo, as pessoas podem tomar um medicamento contra resfriado e um sedativo, ambos contendo difenidramina, ou um medicamento para resfriado e um analgésico, ambos contendo acetaminofeno. Esse tipo de duplicação é particularmente provável com o uso de medicamentos com múltiplos ingredientes ou vendidos com nomes comerciais que, apesar de parecerem diferentes, na realidade, possuem os mesmos ingredientes.
Por isso, a conscientização sobre os ingredientes dos medicamentos é importante, assim como verificar qualquer medicamento novo para evitar a duplicação. Por exemplo, muitos analgésicos fortes vendidos apenas sob prescrição médica contêm um opioide mais acetaminofeno. Pessoas que tomam esses produtos e que não conhecem seus ingredientes podem tomar outro medicamento de venda livre que contenha acetaminofeno para obter alívio extra e correr risco de intoxicação.
Outros problemas de duplicação que podem vir a acontecer são os casos em que a pessoa toma dois medicamentos diferentes com o mesmo efeito. A probabilidade de isso ocorrer é mais frequente quando as pessoas consultam diversos médicos, adquirem seus medicamentos em mais de uma farmácia ou ambos. Os médicos que não estão cientes do que os outros receitaram podem acabar receitando medicamentos semelhantes inadvertidamente. Dessa forma, pode ocorrer sedação excessiva e tontura quando dois médicos prescrevem um sonífero ou quando um prescreve um sonífero e o outro prescreve outro medicamento que tem efeitos sedativos semelhantes, como por exemplo, um medicamento contra ansiedade.
Uma das maneiras de evitar esse tipo de situação é manter todos os médicos informados sobre os medicamentos receitados e utilizar somente uma farmácia para compra de todos os medicamentos prescritos. É importante ter uma lista atualizada de todos os medicamentos que estão sendo tomados e levá-la nas consultas médicas. Além disso, as pessoas não devem tomar medicamentos prescritos anteriormente, como comprimidos para dormir ou analgésicos sem antes consultar um médico ou farmacêutico, pois tal fármaco pode duplicar ou interagir de alguma forma com um de seus medicamentos atuais.
Oposição
Dois medicamentos com ações opostas podem interagir, reduzindo assim a eficácia de um deles ou de ambos. Por exemplo, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) usados para aliviar a dor, como ibuprofeno, podem fazer o organismo reter sal e líquidos. Diuréticos, como a hidroclorotiazida e a furosemida, ajudam o corpo a eliminar o excesso de sais e líquidos. Se uma pessoa toma os dois tipos de medicamento, o AINE pode reduzir a eficácia do diurético. Certos betabloqueadores, como o propranolol, usados para controlar hipertensão arterial e doenças cardíacas, neutralizam os estimulantes beta-adrenérgicos usados para controlar a asma, como albuterol. Os dois tipos de medicamento têm como alvo os mesmos receptores celulares, os receptores beta-2, contudo um tipo bloqueia e o outro estimula os receptores.
Alteração
Um medicamento pode mudar a forma como o organismo absorve, distribui, metaboliza ou excreta outro medicamento. Fármacos bloqueadores de ácido, como bloqueadores de histamina-2 (H2) e inibidores da bomba de prótons, aumentam o pH do estômago e reduzem a absorção de alguns medicamentos, como o cetoconazol, indicado para infecções fúngicas.
Muitos medicamentos são decompostos e inativados, ou seja, metabolizados por determinadas enzimas no fígado. Alguns medicamentos afetam essas enzimas hepáticas, aumentando ou diminuindo sua atividade, e podem fazer com que outro medicamento seja inativado mais rapidamente ou mais lentamente do que o normal. Por exemplo, ao aumentar a atividade das enzimas hepáticas, barbitúricos, como o fenobarbital, fazem com que o anticoagulante varfarina seja inativado mais rapidamente e, assim, seja menos eficaz quando tomado durante o mesmo período.
Entretanto, ao reduzirem a atividade do sistema enzimático, medicamentos como a eritromicina e o ciprofloxacino podem elevar a atividade da varfarina, aumentando o risco de hemorragia. Quando os medicamentos que afetam as enzimas hepáticas são usados em pessoas que tomam varfarina, os médicos monitoram essas pessoas mais cuidadosamente e ajustam a dosagem de varfarina para compensar esse efeito. A dose de varfarina é ajustada novamente quando os outros medicamentos são interrompidos. Muitos outros medicamentos afetam as enzimas hepáticas.
As substâncias químicas contidas na fumaça de cigarro podem aumentar a atividade de algumas enzimas hepáticas. Como resultado, fumar diminui a eficácia de alguns medicamentos, como teofilina, medicamento que amplia as vias aéreas, ou seja, um broncodilatador.
Certos medicamentos afetam a taxa na qual os rins excretam outro medicamento. Por exemplo, grandes doses de vitamina C aumentam a acidez da urina, alterando, assim, a taxa de excreção e a atividade de certos medicamentos. Desse modo, a taxa de excreção pode diminuir para medicamentos ácidos, como a aspirina, mas pode aumentar para medicamentos básicos, como a pseudoefedrina.
Medicamentos e nutrientes
Os nutrientes são alimentos, bebidas e suplementos alimentares. O consumo dessas substâncias pode modificar os efeitos dos medicamentos que a pessoa toma.
Alimentos
Assim como os alimentos, os medicamentos ingeridos por via oral devem ser absorvidos pelo estômago ou pelo intestino delgado. Consequentemente, a presença de alimentos no trato digestivo pode diminuir a absorção de um medicamento. Geralmente, tais interações podem ser evitadas ao se tomar o medicamento uma hora antes ou duas horas depois das refeições.
Suplementos alimentares
Suplementos alimentares são produtos que contêm vitaminas, sais minerais, ervas ou aminoácidos e que têm o objetivo de suplementar uma dieta normal. Os suplementos são regulamentados como alimentos, não como medicamentos, de modo que não são testados de forma abrangente. Porém, eles podem interagir com medicamentos vendidos sob prescrição médica ou de venda livre. As pessoas que tomam suplementos alimentares devem informar seus médicos e farmacêuticos desse detalhe para que sejam evitadas interações.
Álcool
Apesar de muitas pessoas não considerarem o álcool um tipo de nutriente, a bebida alcoólica afeta os processos no corpo e interage com muitos medicamentos. Por exemplo, ingerir bebidas alcoólicas com o antibiótico metronidazol pode causar rubor, dor de cabeça, palpitações, náusea e vômitos.
Medicamento e doença
Em alguns casos, os medicamentos que servem para tratar uma doença são prejudiciais para outra. Por exemplo, alguns betabloqueadores usados para controlar doenças cardíacas ou hipertensão arterial podem piorar a asma e dificultar a detecção de hipoglicemia por pessoas com diabetes. Alguns medicamentos tomados para tratar resfriado podem piorar o glaucoma.
O ideal é que as pessoas informem seus médicos sobre todas as doenças que têm antes que o médico receite um novo medicamento. Diabetes, hipertensão, hipotensão, úlcera, glaucoma, próstata aumentada, incontinência urinária e insônia são importantes, pois os portadores desses quadros clínicos correm um risco maior de sofrerem interações entre medicamento e doença.
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Fonte: Guia da Farmácia e Manual MSD
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