Após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar os testes de Covid-19 nas farmácias muitas dúvidas surgiram sobre a eficácia e a confiabilidade do exame feito de forma diferente e até com o resultado obtido mais rápido do que o método PCR. Os testes feitos em farmácias têm o resultado de 10 a 30 minutos, e só poderão ser feito com o acompanhamento de um profissional.


Antes de esclarecer todas as dúvidas sobre o exame para identificar a presença ou ausência do coronavírus no indivíduo é preciso entender a diferença do teste PCR e do teste rápido feito pelas farmácias. É importante entender também que os exames PCR, até então, são feitos exclusivamente em hospitais e clínicas.


Exame PCR


O resultado do teste PCR sai no mínimo com 4 horas de prazo. Para a coleta do exame é utilizado um cotonete para recolher a secreção mucosa da boca ou do nariz. Após isso, o material é enviado para análise em laboratório, no qual, rastreia material genético do vírus. Caso o resultado dê positivo o paciente tem o vírus.


Teste rápido


Para esse teste o tempo para o resultado leva de 10 a 30 minutos como foi mencionado anteriormente. A coleta é feita com o sangue coletado no dedo como em um teste de glicemia. Depois disso, o material colhido vai para o aparelho, no qual, busca anticorpos e mostra o resultado. Se o teste feito der positivo o paciente foi infectado e criou anticorpos.


Acompanhe abaixo as perguntas e respostas sobre o assunto:

Qual a diferença entre testes moleculares (rRT-PCR) e testes rápidos?

As principais diferenças estão no material coletado, no tipo de análise e no tempo que o resultado leva para sair. No teste molecular, mais conhecido como rRT-PCR, a coleta é com um cotonete, colocado na boca e no nariz da pessoa que vai ser testada. A amostra é processada em laboratórios.

Tecnicamente o resultado pode ser obtido em 4 horas, mas durante a pandemia pode demorar até 7 dias por causa de gargalos nos laboratórios. Esse tipo de exame é o mais indicado para diagnosticar a Covid-19, porque consegue detectar o vírus logo no começo da doença. A chance de um falso negativo também é menor.

No teste rápido, a coleta é feita de forma semelhante à medição de glicose, com uma picada no dedo e coleta de uma amostra de sangue. Ele leva de 10 a 30 minutos para mostrar o resultado, e é indicado apenas em pessoas que apresentam sintomas há pelo menos 7 dias. Esse tipo de exame mostra se a pessoa testada tem anticorpos para o vírus.

De acordo com o médico infectologista Jean Gorinchteyn, o teste rápido tem outra avaliação. Nesse caso o que é avaliado é a dosagem anticorpos. "Não vejo (detecto) mais o vírus, mas o anticorpo, que é a primeira arma do corpo contra o vírus", afirma.

O teste rápido substitui outros tipos de exame?


Os testes rápidos não têm finalidade confirmatória, e servem como um auxílio no diagnóstico da Covid-19. Ou seja, mesmo que o resultado do teste rápido seja positivo, o paciente não será automaticamente diagnosticado como caso confirmado. O mesmo vale para um possível resultado negativo.

Isso acontece porque, no estágio inicial da infecção, falsos negativos são esperados, porque o nível de anticorpos pode ser muito baixo. Segundo o infectologista e epidemiologista Antonio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), "quanto mais tempo passar desde o início dos sintomas, maior será a chance de ficar positivo o teste rápido".

O infectologista ainda diz que esses testes que serão feitos nas farmácias, ele não vê segurança neles, pois, há uma variação entre os vários fabricantes do exame. "A aprovação deles foi feita de forma emergencial, com uma quantidade baixa de número de amostras. Eles indicam a produção de anticorpos, ou seja, no primeiro dia até o 8º dia, esses testes não são apropriados para mostrar nada. Eles devem ficar negativos no início, porque a pessoa não tem anticorpos suficientes contra a doença", explicou o infectologista.

Segundo Bandeira, esse tipo de teste não substitui o teste PCR, que consegue detectar o agente da doença e é mais seguro.


Existe um período ideal para fazer o teste rápido de farmácia?


A Anvisa recomenda que o teste rápido seja feito pelo menos 7 dias após o início dos sintomas. Antonio Bandeira avalia que a partir do 8º é mais seguro e, quanto mais tarde, maior a chance de dar um resultado confiável positivo. No entanto, o Ministério da Saúde recomenda como ideal o período entre o 10º e o 14º dia.

O período de incubação do vírus no corpo humano leva cerca de 14 dias para só então os sintomas começarem a surgir. Com a presença dos sintomas o teste PCR deve ser feito entre o 4º e o 7º dia, já para os testes rápidos os melhores dias para fazer o exame seria entre o 10º e o 14º dia, o mesmo tempo indicado pelo Ministério da Saúde.


No início dos sintomas, o ideal é fazer o teste PCR (molecular), o mesmo distribuído pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e feito pelo SUS nos laboratórios de referência. Ele é o que pode ser chamado de "padrão ouro":

"Eles pegam o genoma do vírus, sequenciam, tiram um pedacinho da sequência e quando você coloca na presença do vírus, ele sinaliza", explica a infectologista Tânia Vergara, da Sociedade de Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro.

Por isso, o PCR consegue detectar o início da infecção e é mais confiável. Ele busca o próprio vírus, enquanto o teste rápido encontra a resposta imunológica do corpo ao vírus.

"Na verdade, o PCR ele vai atrás do agente, do vírus ou da bactéria. Os testes rápidos eles são testes que você busca a presença de anticorpos. Não é a melhor forma possível, mas é a mais rápida", disse Bandeira.

Considerando o uso correto, para quais tipos de casos eles devem ser usados?


De acordo com o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, os testes rápidos são recomendados para pessoas que estejam apresentando sintomas da Covid-19 há pelo menos 7 dias.

Qual a estimativa de preço?


Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), ainda não existe uma previsão de quanto os testes vão custar. "Isso vai depender do custo de aquisição do produto, que é realizado em dólar", disse Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma.

Até o momento, os testes já podem ser encontrados por cerca de R$ 200 em redes de farmácias.

Qualquer farmácia vai poder fazer o teste rápido?


Não. Apenas estabelecimentos com profissional qualificado durante todo o horário de funcionamento podem aplicar os testes. Também é preciso lembrar que a decisão da Anvisa permite que farmácias façam os testes, mas a adesão é voluntária.

O que significam as siglas nos dispositivos de teste rápido?


Os resultados dos testes rápidos são exibidos por um conjunto de letras: IgM e IgG, anticorpos da fase aguda (a partir de 4º - 5º dias) e crônica (a partir de 13º-14º dias) da doença, respectivamente. Estas são as defesas do organismo a um agente externo, como o coronavírus.

Qual o nível de confiança ou eficácia dos testes rápidos?


A eficácia dos testes rápidos é o principal ponto de preocupação na utilização desses testes. Apesar de algumas fabricantes prometerem índices de precisão acima de 90%, alguns exames apontam que a chance de erro pode ser de 70%.

De acordo com o estudo da Fundação Oswaldo Cruz, publicado no jornal "O Globo", os testes rápidos podem ser ferramentas úteis, porém, as marcas disponíveis no Brasil têm em média um risco relativamente alto de falsos negativos - quando o anticorpo não é detectado, mas a pessoa está infectada.

O pesquisador e hepatologista Hugo Perazzo, disse em entrevista para o jornal que os testes são capazes de detectar mais facilmente o anticorpo IgG, que aparece no final do ciclo da doença. O tipo IgN, depois do 8º dia, pode ser mais difícil e mais suscetível a um resultado que não condiz com a verdade.

Além disso, algumas entidades médicas demonstraram preocupação com relação à aprovação dos testes pela Anvisa. São contrárias ao uso: Associação Brasileira de Biomedicina (ABBM), Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

"Com inúmeras evidências de que os testes rápidos apresentam grande variação de qualidade e desempenho, visto que países como Espanha e Itália já devolveram aos fabricantes milhões de kits com baixa eficiência, demonstramos preocupação com a aprovação", apontam as entidades em nota.

Como os testes rápidos estão sendo usados pelo mundo?


Os testes rápidos não são unamidade. A Espanha teve problemas com cerca de 9 mil testes rápidos de um lote de mais de 600 mil exames da empresa chinesa Bioeasy. O índice de precisão, que deveria ser de 80%, foi de apenas 30%. A embaixada da China no país alertou o governo espanhol, no entanto, que a empresa não era credenciada para produzir esse tipo de teste.

Após adquirir milhões de testes rápidos, o Reino Unido, admitiu que ainda não tem "nenhum que seja bom o suficiente", de acordo com o secretário de saúde do país, Matt Hancock, em entrevista à rede de notícias BBC.

Um estudo da Universidade de Oxford, coordenado pelo professor John Bell, mostrou que os testes analisados "não tiveram bom desempenho", apresentando "muitos falsos negativos e também falsos positivos". A conclusão é de que "nenhum dos testes avaliados atenderia aos critérios para um bom teste", disse o estudo, sem informar quantos tipos de exame foram considerados.

Já a República Tcheca, que também adquiriu testes rápidos chineses, afirmou que 80% dos exames apresentavam defeito.

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Fonte: G1

Imagem: Governo Paraíba