Uma novidade do XXII Congresso da Sociedade Brasileira de Diabetes, essa semana em Natal (RN), foi o incremento da participação dos farmacêuticos no movimento pela prevenção e controle da doença no último ano. Promovido pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), com a participação de profissionais de todo o país, foi realizado o maior rastreamento de casos suspeitos de diabetes do Brasil. Os farmacêuticos também estiveram representados nas mais importantes atividades da SBD, entre as quais, o Fórum Internacional, em novembro, com o simpósio farmacêutico, organizado pelo conselho. E o quadro de associados à sociedade foi ampliado, mas a categoria quer mais. No Encontro de Farmacêuticos, durante o congresso, os participantes decidiram propor a recriação do Departamento de Farmácia da entidade.
A sugestão será levada à nova Diretoria da SBD, que assume no ano que vem. Com maior representatividade, os farmacêuticos esperam ampliar sua contribuição em prol das causas defendidas pela sociedade. "Já tivemos alguns avanços, como a instituição de um grupo de trabalho para a organização desse último Encontro de Farmacêuticos, onde traçamos estratégias para estreitar o relacionamento com a entidade e assim viabilizar formas de colocar nossa capacidade técnica a serviço das pessoas com diabetes", comenta o representante dos farmacêuticos na SBD e integrante do Grupo de Trabalho sobre Diabetes do CFF, José Vanilton de Almeida. Participaram Monica Lenzi, Wesley Magno, Eliete Bachrany e Josélia Frade, que também pertencem ao GT sobre Diabetes do CFF. No Encontro de Farmacêuticos, a Diretoria do conselho federal foi representada pela vice-presidente da entidade, Lenira da Silva Costa.
O encontro de farmacêuticos serviu ainda para a troca de experiências. Uma delas inspirou a elaboração de uma proposta de trabalho que será levada à SBD e ao Ministério da Saúde, para que possa ser disseminada por todo o país: a participação dos Hemocentros no rastreamento do diabetes no Brasil. Pesquisa realizada, durante um ano, com cerca de 30 mil doadores de sangue no Rio Grande do Norte identificou 1,5 mil pessoas com pré-diabetes e 800 com diabetes. Os números foram apresentados no Congresso Brasileiro de Hematologia em 2018 e divulgados no encontro pelo farmacêutico Gustavo Oliveira, do Hemocentro do Rio Grande do Norte.
Segundo o pesquisador, a Portaria nº 1.018/2005 do Ministério da Saúde determina que a triagem de hemoglobinas variantes seja realizada em doadores de sangue e a técnica utilizada (HPLC) também permite a avaliação da hemoglobina glicada (A1c). Os hemocentros e os bancos de sangue, em geral, não são obrigados a notificar os doadores com A1c acima da normalidade, da mesma forma como ocorre com os doadores de sangue identificados com HIV, hepatites, sífilis e traço falciforme.
"O rastreamento é feito de forma eficaz e sem custo extra", explicou o pesquisador acrescentando que "se esses pacientes fossem notificados poderiam se beneficiar com tratamento precoce, o que contribuiria para a redução do custo da saúde no país". Segundo o Dr. Oliveira, o problema da não notificação acontece em todo o Brasil e os hemocentros e bancos de sangue poderiam ser grandes aliados no rastreio de Diabetes no país.
Na avaliação dele, o trabalho ressalta a importância do farmacêutico no rastreamento do diabetes e corrobora os dados obtidos no maior estudo sobre prevalência do risco da doença no Brasil, o Rastreamento de Casos Suspeitos de Diabetes Mellitus: Novembro Diabetes Azul 2018, realizado no final do ano passado pelo CFF, com o apoio da SBD. Gustavo Oliveira elogiou, ainda, a SBD pelos espaços abertos a essa classe de profissionais, destacando o grande número de farmacêuticos na grade de palestras.
Outras experiências - A proposta é que os farmacêuticos que atuam na prevenção, diagnóstico, tratamento e controle do diabetes, bem como de suas morbidades, e que tenham cases, gravem vídeos de até um minuto e meio e encaminhem para o GT, para que possam inspirar outras estratégias de ação. Os vídeos devem ser enviados para o e-mail gtdiabetes@cff.org.br. Um grupo de Whatsapp está sendo criado para facilitar a comunicação entre os especialistas.
O trabalho do CFF foi elogiado pelos participantes do encontro. Mateus Pereira, farmacêutico de uma Farmácia de Manipulação e do Hospital de Clínicas em Mossoró, disse se sentir bem representado. "O CFF e os CRFs têm atuado na ampliação de nossas atribuições clínicas e na legalização de nossas condutas", assinalou. Para Mateus, o farmacêutico precisa é se apoderar dessas normativas e efetivar suas condutas. "Ele precisa escrever, carimbar, conversar com o médico, orientar o paciente. Quem não é visto, não é lembrado", comentou.
Fabiana Ribeiro, que é farmacêutica da Secretaria Municipal de São Leopoldo, do Rio Grande do Sul, e tem diabetes, sentiu na própria pele o quanto seu trabalho é importante para o sucesso do tratamento das pessoas que convivem com a doença. Recém-empossada na Secretaria, ela precisou usar uma agulha distribuída pelo município para aplicar a própria insulina e não conseguiu. "Era uma agulha muito grossa. Fiquei em pânico pensando em quantos pacientes não aderiam ao tratamento."
Essa experiência foi decisiva para muitas mudanças na assistência prestada aos pacientes no município em que ela trabalha. Uma delas foi a implantação de dois consultórios farmacêuticos para o acompanhamento dos pacientes com diabetes. "A gente vê que há uma desinformação muito grande sobre o uso de insumos e medicamentos. E os farmacêuticos têm muito a contribuir, mas precisam se conscientizar, se capacitar e estarem motivados para isso."
Fonte de texto: Conselho Federal de Farmácia