Quem usa anticoncepcional tem mais chance de desenvolver coágulos no sangue. Essa situação que pode facilitar o entupimento de veias e a ocorrência de tromboses, infarto e derrame. E o desenvolvimento desses problemas depende, também, de outros fatores de risco como doenças genéticas, idade, tabagismo, obesidade e sedentarismo.

Em um estudo realizado pela farmacêutica Thaís Resende Batista, utilizando a técnica inovadora de geração de trombina, desenvolvida na Europa, foi possível observar com clareza essa relação. O método é considerado mais eficaz que os exames mais frequentemente usados no Brasil para a avaliação da coagulação do sangue, porque consegue avaliar quadros hemorrágicos leves e quadros de risco de desenvolvimento de trombose. Os exames mais comumente usados na prática clínica (tempo de tromboplastina parcial ativada - TTPA e tempo de protrombina - TP) avaliam apenas quadros hemorrágicos graves e moderados, mas não avaliam quadros hemorrágicos leves e nem quadros com de risco de desenvolvimento de trombose.

"Os testes disponíveis atualmente no Brasil são capazes de fornecer apenas uma avaliação superficial da coagulação diferentemente do que acontece com a técnica de geração de trombina que permite avaliar de forma mais ampla o processo de coagulação". De acordo com ela, os estudos que avaliaram a associação da geração de trombina e doenças trombóticas e cardiovasculares têm aumentado em alguns países da Europa e esses estudos têm mostrado resultados bastante promissores.

O trabalho desenvolvido pela equipe de Thaís Resende Batista foi realizado no campus Centro-Oeste Dona Lindu da Universidade Federal de São João del-Rei, em Divinópolis, por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo com a nova técnica envolveu 641 mulheres que fazem parte do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, o Elsa-Brasil. Entre as participantes da pesquisa, 8% usavam anticoncepcional, 68% disseram ter utilizado no passado e 23% nunca administraram o produto. A partir dos resultados do estudo foi possível sugerir que mulheres em uso de contraceptivos orais apresentam maior chance de gerar coágulos no sangue e desenvolver trombose que àquelas que nunca usaram.

"Nós observamos que as usuárias atuais de contraceptivos orais apresentaram maior geração de trombina que ex-usuárias e não usuárias de contraceptivos orais. Esse resultado sugere o potencial da técnica de geração de trombina de refletir estados de hipercoaguabilidade. Uma vez que usuárias atuais de contraceptivos orais apresentaram maior geração de trombina que ex-usuárias e não usuárias." Ela explica que o objetivo do estudo era comprovar que a técnica de geração de trombina é capaz de identificar estados de hipercoagulabilidade na população brasileira, que é quando o paciente está propício a formar coágulos além do normal e, por isso, desenvolver trombose.

Acompanhamento

Thaís Resende Batista lembra, ainda, que a ocorrência desses problemas na coagulação sanguínea depende de outros fatores de risco como doenças genéticas, tabagismo, obesidade e sedentarismo. Por isso, a mulher que faz uso de contraceptivo oral deve ser acompanhada por profissionais da saúde. "É necessário um acompanhamento médico porque o uso de contraceptivos orais não pode ser uma coisa aleatória. Inicialmente, é preciso fazer uma pesquisa de histórico familiar de doenças genéticas relacionadas a hipercoaguabilidade", afirma.

A farmacêutica diz que, se possível, a paciente deve realizar uma investigação por meio de exames relacionados a doenças genéticas. "É necessário, também, pesquisar contraceptivos mais seguros. Hoje, sabemos que contraceptivos mais seguros tem doses mais baixas de estrogênios e são constituídos de progestagênios de segunda geração". O progestagênio de segunda geração usado no Brasil é o levonorgestrel, considerado mais seguro. O desogestrel e gestodeno são mais comuns, de terceira geração, e oferecem mais risco. Já o acetato de ciproterona, não pertence a nenhuma classe específica, mas também oferece maior risco.

O farmacêutico apresenta papel essencial na orientação de mulheres que desejam fazer uso de contraceptivo oral, como alerta Thaís: "ele é o profissional mais capacitado para avaliar o contraceptivo oral mais adequado em cada situação que apresente maior segurança e maior custo efetividade. Além disso, o farmacêutico pode ajudar a identificar fatores de risco para o desenvolvimento de doenças trombóticas que não devem ser associadas ao uso de contraceptivo oral."

Reconhecimento

Thaís Resende Batista é mestre em ciências farmacêuticas pela Universidade Federal de São João del-Rei. Pelo seu trabalho com estudos de nova técnica para avaliar a coagulação no sangue associada ao uso de anticoncepcional ela foi a vencedora do Prêmio Jayme Torres 2018. A premiação é oferecida pelo Conselho Federal de Farmácia e tem por objetivo reconhecer e difundir experiências que melhorem as condições de saúde da população.

Com o tema "O impacto da incorporação de tecnologias ou procedimentos nas análises clínicas e toxicológicas visando à segurança do paciente", o Prêmio Jayme Torres 2018 teve como primeiro lugar na Categoria Farmacêutico Thaís Resende Batista, com o trabalho "Associação entre o uso de contraceptivo oral e a geração de trombina: Evidência do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)".

"Diante de todo o exposto e tendo em vista o tema do Premio Jayme Torres de Farmácia 2018, nossa expectativa é que um dia a técnica de geração de trombina seja padronizada como exame laboratorial e permita, por exemplo, que antes de se iniciar o uso de contraceptivos orais as mulheres possam usar este exame para avaliar se sua coagulação está em condições normais, para que não corram o risco do uso de contraceptivo servir de fator desencadeador para a ocorrência de um evento trombótico", espera a pesquisadora.

A Dra. Thaís Resende Batista recebeu como premiação pelo primeiro lugar um cheque no valor de R$ 6.000, troféu e certificado. Foram autores colaboradores Ana Paula Ferreira Silva, Chams Bicalho Maluf, Antônio Luiz Pinho Ribeiro, Sandhi Maria Barreto, Maria das Graças Carvalho, Roberta Carvalho de Figueiredo e Danyelle Romana Alves Rios.

Fonte de texto: www.cff.org.br