O acompanhamento por farmacêuticos em uma equipe multidisciplinar foi uma maneira encontrada para avançar no tratamento de pacientes no Instituto do Coração em São Paulo. O trabalho faz parte do doutorado desenvolvido pela farmacêutica Leiliane Rodrigues Marcatto na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
No estudo, o grupo de profissionais avaliou o uso do medicamento varfarina por pacientes com fibrilação atrial. Esse tipo de arritmia cardíaca estimula a formação de coágulos no sangue que podem provocar infarto ou AVC. De acordo com a farmacêutica, alguns pacientes não tinham resposta adequada com o uso do anticoagulante varfarina, muitas vezes sem eficácia no tratamento ou com reações adversas. "A varfarina possui uma faixa terapêutica estreita com difícil ajuste de dose, isso quer dizer que se o paciente tiver uma dose acima da faixa terapêutica ele pode apresentar sangramentos e abaixo da faixa terapêutica ele pode apresentar um evento tromboembólico", explica.
Leiliane Rodrigues Marcatto diz que o ajuste da dose deve, ainda, levar em consideração características genéticas, peso, idade, dieta do paciente e uso de outros medicamentos. O trabalho envolveu o acompanhamento de 268 pacientes. Eles passaram por entrevistas, orientação nutricional e exames laboratoriais. O objetivo foi identificar possíveis erros no uso do medicamento, no ajuste de dose ou interação com outros medicamentos, entre outros aspectos.
Os pacientes foram monitorados e acompanhados pelo farmacêutico por três meses. "O resultado foi muito interessante. Nós conseguimos triplicar a qualidade da anticoagulação, qualidade da terapia. Esse dado já está publicado e agora nós estamos em processo de publicar um novo dado que é sobre após um ano de finalização desse cuidado farmacêutico, e se o paciente consegue permanecer com a mesma qualidade. E, pelos resultados, constatamos que sim. Então, é como se ele tivesse aprendido realmente a tomar a medicação e a ficar aderente e o farmacêutico neste caso foi fundamental", afirma.
A varfarina é um anticoagulante oral e é um dos medicamentos mais prescritos no mundo para o tratamento da trombose, que é a formação de coágulos no sangue. Apesar do surgimento de novos produtos no mercado, a varfarina ainda é o mais acessível à população, por conta do preço mais baixo. Mas, para ter o resultado esperado, além de ter o acompanhamento médico, o paciente precisa tomar alguns cuidados essenciais.
Recomendações aos pacientes
A especialista alerta que quem está em uso da varfarina deve tomar cuidado com alimentos que possuam alta concentração de vitamina K porque eles acabam diminuindo a efetividade do tratamento. "Esses alimentos ricos em vitamina K são aqueles verdes escuros. Então brócolis, couve, todos eles têm uma grande quantidade de vitamina K. Outra coisa também é a questão dos sangramentos, quem toma anticoagulante tende a sangrar mais. Então tomar cuidado na hora de fazer a barba e com faca para não se cortar porque esse sangramento vai demorar mais para a ferida coagular".
Outra orientação da profissional é que o medicamento seja tomado sempre com um copo de água e em jejum. Não é recomendada a administração com alimentos e outras bebidas. Quem utiliza a varfarina deve sempre informar ao médico, ao farmacêutico e demais profissionais da saúde para evitar complicação com outros medicamentos. "Porque é um medicamento que possui muitas interações medicamentosas. E a gente precisa avaliar se o paciente realmente pode ou não tomar certos medicamentos de forma concomitante com a varfarina. É preciso tomar cuidado, inclusive, com fitoterápicos", alerta.
Segundo ela, às vezes até um simples chá de camomila pode piorar um sangramento do paciente. "Então, tem que ter cuidado com esses remédios naturais que podem aumentar a probabilidade de sangramento quanto diminuir a efetividade da varfarina podendo causar um evento tromboembólico no paciente".
Pelo trabalho desenvolvido com sua equipe, a farmacêutica Leiliane Marcatto foi homenageada neste ano e recebeu o Prêmio Jayme Torres oferecido pelo Conselho Federal de Farmácia. Ela conquistou o segundo lugar na premiação com o artigo "Impacto da Requisição do Exame Laboratorial pelo Farmacêutico no monitoramento Terapêutico de Varfarina em Pacientes com baixo tempo dentro da faixa Terapêutica". A profissional está fazendo doutorado em ciências médicas no laboratório de genética e cardiologia molecular no Instituto do Coração pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Fonte de texto: www.cff.org.br
Fonte de imagem: www.imagens.usp.br