Farmacêuticos são os profissionais da saúde mais acessíveis da população e estão de ponta a ponta no atendimento ao paciente. Este profissional atua, inclusive, com a orientação sobre amamentação e pode fazer a diferença para uma história de sucesso de aleitamento materno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a amamentação se inicie na primeira hora de vida do bebê e se prolongue até os dois anos da criança, sendo exclusiva nos primeiros seis meses.

Segundo a farmacêutica-bioquímica e coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Materno Infantil (HMI), Renata Machado Leles, o leite materno é um alimento completo para a criança e possui uma série de benefícios. "É comprovado que o leite materno atua no organismo de forma essencial. Serve como vacina natural e protege de doenças. Bebês alimentados com este leite crescem mais seguros, inteligentes e tem um melhor desenvolvimento", salienta.

A farmacêutica e assessora técnica do CRF-GO Leiliane Oliveira dos Santos explica que o profissional farmacêutico atua de três formas no âmbito da amamentação: orientação à lactante, dispensação de medicamentos e controle de qualidade nos bancos de leite. "Cabe ao farmacêutico prestar orientação sobre quais medicamentos são ou não indicados para lactantes e também os cuidados que ela deve ter ao utilizá-los. Há medicamentos que, quando ingeridos, podem chegar como fragmentos no leite e a criança acaba ingerindo uma quantidade, mesmo que pequena, deste produto", apresenta Leiliane.

Foi o que aconteceu com a jornalista e mãe do Caleb, Maressa Ellen de Sousa Chaves Duarte, de 24 anos. A jovem conta que durante a amamentação teve uma infecção de garganta, precisou fazer uso de paracetamol, mas não chegou a consultar um farmacêutico. O medicamento acabou chegando ao leite e provocou reação alérgica no seu filho. "Ele teve empolação no corpo todo e tive que tratar com pomada antialérgica. Descobri que, devido a uma predisposição genética, ele é alérgico ao paracetamol", salienta.


Banco de Leite

Nos bancos de leites de hospitais e clínicas especializados em coleta de leite humano para doação, o profissional da Farmácia é responsável por analisar e inspecionar a composição química e fisiológica do leite doado. É assim que explica a coordenadora do Banco de Leite Humano do HMI, Renata Machado Leles.

Segundo Renata, no local, é feito todo processo de controle de qualidade para que o leite possa ser distribuído entre os recém-nascidos, dos quais não tiveram possibilidade de receber o aleitamento de suas mães. "O leite vem de mulheres que estão amamentando, que tenham excesso – o suficiente para doar –, e que seus bebês estejam se desenvolvendo bem", explica a farmacêutica.

A coordenadora salienta que quando a mulher opta em fazer doação e o leite chega para o banco, ele deixa de ser materno e passa a ser chamado de leite humano. Ela explica também que no Banco de Leite o trabalho acontece de três formas: orientação sobre amamentação e aleitamento materno; processo técnico e operacional da doação; e assistência às trabalhadoras do banco que estão amamentando e, durante o horário de expediente, retiram o leite e conservam para que seus nenéns consumam enquanto elas não estão em casa.

Renata esclarece que o banco, no que tange à operação técnica de doação, desenvolve todo um processo de tecnologia de alimento e controle de qualidade. "A presença do farmacêutico no campo da amamentação faz a diferença. Nós fazemos bem à saúde e aqui, no banco, começamos desde a base que é o neném. Também prestamos orientação sobre a retirada do leite, a fim de evitar a contaminação", explica.

O leite retirado para doação passa por inúmeros processos de pasteurização, padronização e controle microbiológico, antes de chegar às crianças. "Fazemos o degelo, pegamos amostras de leite, enviamos para a pasteurização, resfriação e padronização. Em seguida, é feita pesquisa microbiológica. Só após as etapas, enviamos o alimento para os bebês da UTI. O leite pasteurizado pode ficar até 6 meses congelado", expõe Renata.

Orientação e dispensação

Quanto à atuação do farmacêutico na orientação e dispensação de medicamentos, a secretária do Grupo Técnico (GT) de Trabalho em Distribuição e Transporte do CRF-GO, Cynthia Aguiar Dias, pontua que se a paciente lactante vai à farmácia, compra um medicamento e não avisa que está amamentando, o aleitamento pode estar comprometido. "É importante que a lactante avise que está amamentando e que tenha um profissional farmacêutico, no local, para instruir sobre a patologia na qual está tratando", pondera.

Comumente, lactantes têm dúvidas sobre quais medicamentos podem ou não utilizar e como utilizar. Segundo o farmacêutico e coordenador do GT de Drogarias do CRF-GO, Álvaro Paulo da Silva Souza, mulheres que consomem determinadas drogas e alguns tipos de medicamentos, por exemplo, não devem amamentar. Já a dispensação de medicamentos para lactantes se faz mediante prescrição.

Para Álvaro, o farmacêutico é capacitado a dar informações em relação aos medicamentos e como utilizá-los de forma segura. "Lactantes fazem parte de um grupo especial onde têm necessidades diferentes da população geral. Dessa forma, é importante que procurem pelo farmacêutico para obter todas as informações sobre o medicamento e possíveis riscos ao bebê. Se houver necessidade de prescrição para tratar algum transtorno menor, o farmacêutico também é habilitado", esclarece.

Segundo Álvaro, lactantes devem tomar cuidado, inclusive, com os chás caseiros, pois alguns de seus ativos são contraindicados para bebês. "Existem vários medicamentos que podem passar para o leite materno. Alguns podem aumentar a produção de leite, outros podem inibir a produção e outros até causarem efeitos adversos em bebês", salienta.

De acordo com a farmacêutica e uma das responsáveis pela Farmácia Universitária da Universidade Federal de Goiás (UFG) Bruna Lannuce Silva Cabral, no local é realizado avaliação presencial de cada paciente diante o medicamento prescrito. Ela explica que essa avaliação analisa todo o processo de uso medicamentoso e tem o intuito de certificar que determinado produto é adequado ao seu usuário, considerando suas particularidades. "Durante a avaliação são informados todos os medicamentos em uso pelo paciente. No caso das lactantes, é possível avaliar a farmacoterapia prescrita baseada no princípio do risco versus benefício", afirma Bruna.

A também farmacêutica e responsável pela Farmácia Universitária, Nathânia Rodrigues Santiago, afirma que as lactantes são instruídas a programarem diferentes horários de administração dos medicamentos em relação à amamentação, para que não coincidam. A lactante é orientada, ainda, a dar preferência para medicamentos aprovados e reconhecidamente seguros para bebês e que sejam pouco expelidos no leite materno.

"Orientamos que a lactante observe se o bebê apresenta possíveis efeitos colaterais, devido à medicação que ela ingere, como alteração do padrão alimentar, sonolência, agitação, tônus muscular e distúrbios gastrointestinais. Caso seja necessária a interrupção temporária do aleitamento, a orientamos retirar o leite com antecedência e armazenar em congelador. Sugerimos, ainda, ordenhas periódicas para manter a lactação, descartando o leite retirado após o início do tratamento", explica Nathânia.

A administradora de empresas e mãe da Maya, Daniela Martins, de 37 anos, revela que durante a fase de amamentação não produziu leite o suficiente. Devido à sua condição, foi a uma farmácia e recebeu a orientação de uma farmacêutica que a indicou uma fórmula para complementar a dieta do bebê. "Quando a Maya nasceu eu não tinha leite, então um farmacêutico me instruiu a tomar água inglesa e fazer uso de bombinha. Mas, infelizmente, nem isso adiantou. Depois, outra farmacêutica indicou uma fórmula, pois ajudaria a sustentar a neném, já que meu leite era pouco", afirma Daniela, satisfeita com o atendimento.

Renata Machado Leles, que também é farmacêutica e responsável técnica na Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia, explica que, em relação aos medicamentos que podem ser utilizados por lactantes, é seguido um manual do Ministério da Saúde (MS). O documento aponta os medicamentos e outras substâncias que podem ser transferidos para o leite materno e seus possíveis efeitos no bebê. Revela também que poucos fármacos são formalmente contraindicados.

Fonte de texto: www.crfgo.org.br