O farmacêutico goiano Alexsander Augusto da Silveira recebeu um prêmio do European Biotechnology Congress 2019 pela apresentação de um trabalho inovador que extermina a larva do mosquito Aedes aegypti, responsável por transmitir doenças como a dengue, a febre amarela, a Zika e a Chikungunya. O evento é um dos mais importantes da área de biotecnologia no mundo foi realizado em Valência na Espanha e contou com a participação de pesquisadores, autoridades do âmbito e indústrias interessadas em pesquisas do mundo inteiro.
O farmacêutico explica que isolou partes de um fungo que é característico do solo brasileiro e que os produtos do mesmo teriam degradação rápida na natureza, não trazendo assim prejuízos ao meio ambiente. "A larva tem o que nós chamamos de quitina na estrutura, então ela consegue romper a quitina e os peptídeos conseguem atuar em partes moles e frágeis. Qual que seria a vantagem desse produto? Ele não geraria os resíduos que são gerados pelos agrotóxicos, inseticidas e químicos usualmente aplicados."
Ao mesmo tempo que o fungo pode ser direcionado a atacar o vetor das doenças pode, também, proteger a planta. "Ele apresenta uma simbiose com as plantas, então, elas já estão adaptadas para receber esse fungo. É um processo que a gente chama de microparasitismo que seria uma proteção, então, o fungo não ataca a planta e ao mesmo tempo ele não deixa outras bactérias, outros fungos que a gente chama de fitopatogênicos, que iriam causar doença nas plantas".
Segundo o especialista, o fungo pode ser direcionado para atacar especificamente o que escolher podendo conferir ao projeto diversas aplicações. "Não só para Aedes aegypti mas para tudo que tem quitina e eu já venho testando esse fungo 'contra' uma série de vetores como veterinários, de pragas agronômicas, carrapatos, vermes eu posso aplicar. E, futuramente, eu quero aplicar o produto desse fungo até para ambiente hospitalar, para câncer e também bactérias resistentes então o projeto tem uma aplicação tremenda."
O projeto foi desenvolvido com pouco financiamento o que, por um lado, mostra a força do farmacêutico brasileiro, mas, por outro, também traz um receio. "Com muita criatividade a gente competiu com trabalhos do mundo inteiro que tem acesso às tecnologias e tem acesso a dinheiro e a gente ganhar a premiação significa que a estamos fazendo um trabalho muito bom e eu estou com medo porque em breve as pessoas já estão vendo o que eu to fazendo e logo, logo copiam, podendo fazer numa facilidade enorme porque eles têm dinheiro para desenvolver o projeto e a gente não", lamenta.
Após descobrir o que o fungo poderia fazer, o farmacêutico, que é doutor em Medicina Tropical, dividiu a ideia e pesquisa com estudantes de farmácia da faculdade Estácio de Goiás onde leciona e coordena a área de pesquisa e extensão. A estudante Jackeline de Paula Santana de Andrade, que contribuiu na realização de testes e análises, fala sobre a alegria de participar do projeto e de receber o reconhecimento internacional. "Têm 5 anos que trabalho juntamente com o professor Alexsander e outros doutores nesse projeto. O professor Alexsander é um grande profissional, dentro e fora da sala de aula. A gente ter recebido o prêmio foi algo grandioso que trouxe muita felicidade e acredito que estamos indo no caminho certo. Tenho muito chão pela frente ainda mas eu tenho certeza que a gente tem tudo para conseguir conquistar bons resultados".
Apenas até o dia 10 de junho deste ano, o Ministério da Saúde confirmou quase 600 mil casos de dengue pelo país. O número de casos prováveis é ainda maior: 1,127 milhão, o que demonstra a importância do projeto.
Fonte de texto: www.cofen.org.br