O americano John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics, foi o primeiro chefe da indústria farmacêutica a ser condenado em um processo criminal ligado ao assunto.

Em um julgamento no Tribunal no Júri, Kapoor e quatro colegas foram considerados culpados de pagar propinas para que médicos receitassem analgésicos opioides viciantes para pacientes que com frequência não precisavam desses remédios.

Os opioides são medicamentos derivados da papoula - planta que também é a base de produção do ópio e da heroína.

Nos últimos anos, o país tem vivido uma crise de saúde pública graças ao seu uso indiscriminado. Inicialmente prescritos por médicos, eles acabaram viciando milhares de pessoas e levando outras ao uso de drogas ilegais derivadadas, como a heroína.

A crise gerou uma epidemia de overdoses: dezenas de milhares de americanos morreram por uso excessivo de opioides recentemente.

O júri também decidiu que Kappor é culpado por enganar planos de saúde, convencendo-os de que os remédios seriam necessários para os pacientes. O objetivo, diz o processo, era aumentar a venda do spray Subsys, feito com o derivado fentanil.

Ex-bilionário
Nascido na Índia, Kappor fundou a farmacêutica Insys Therapeutics em 1990 e a transformou em uma companhia multibilionária.

O empresário havia sido preso em 2017, no mesmo dia em que o presidente Donald Trump declarou que a crise dos opioides era uma "emergência nacional". Ele era, segundo a condenação, o criador de um esquema que pagava subornos e propinas para que médicos falassem em eventos promovendo o Subys.

Seu julgamento começou neste ano e durou 10 semanas, durante as quais os jurados também ouviram um vídeo feito pela Insys para seus empregados, falando de formas para aumentar as vendas de Subys. Kappor e seus colegas – Michael Gurry, Richard Simon, Sunrise Lee and Joseph Rowan – podem pegar até 20 anos de prisão cada um.

A condenação de Kapoor faz parte de um esforço das autoridades americanas para responsabilizar a indústria farmacêutica e seus acionistas pela crise e diminuir a distribuição dos remédios.

Outras empresas também entraram na mira das autoridades, como a Purdue Pharma, produtora do OxyContin. O analgésico começou a ser vendido em 1996 e em cinco anos já havia rendido US$ 1 bilhão em receitas para a companhia.

Em 2007, a Purdue foi multada em mais de US$ 600 milhões, depois de admitir ter enganado o público a respeito do risco de vício presente no OxyContin. Foi uma das multas mais altas já aplicadas a uma empresa farmacêutica na história dos EUA.

Como a epidemia começou
Em meados da década de 90, cerca de 100 milhões de americanos eram, segundo estimativas, afetados por dor crônica, o que levou autoridades de saúde a pedirem por menor regulação no uso de analgésicos mais poderosos.

Os opioides se tornaram populares pois afetam receptores no cérebro e geram um poderoso alívio da dor, além de reduzir a ansiedade e a depressão que costumam acompanhar episódios de dor intensa. Por outro lado, eles também produzem uma sensação de euforia e são altamente viciantes.

Logo, receitas médicas com opioides passaram a ser distribuídas por todo o país - e farmacêuticas iniciaram uma corrida por sua parcela de mercado.

A epidemia começou com analgésicos prescritos por médicos, incluindo remédios como o Percocet e o OxyContin. E aumentou quando os remédios começaram a ser vendidos no mercado negro.

O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) disse que os opioides estiveram envolvidos em quase 48 mil mortes nos EUA em 2017.

No total, autoridades estimam que 218 mil americanos tenham morrido de overdose por opioides prescritos entre 1999 e 2017.

Também houve um grande aumento do uso de opioides ilegais, incluindo drogas como a heroína. O uso de outras drogas combinadas com substâncias opioides como fentanil aumentou o risco de overdoses.


Fonte de texto: www.bbc.com