Os resultados decepcionantes da maioria dos testes clínicos de medicamentos e tratamentos não poderão mais ficar escondidos nas gavetas dos cientistas e das empresas farmacêuticas - ao menos nos EUA.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) daquele país divulgaram as novas regras, longamente aguardadas.
A partir de agora, os cientistas deverão divulgar o projeto e os resultados de todos os ensaios clínicos. Aqueles que descumprirem as normas serão penalizados e não poderão obter novos fundos públicos para pesquisas.
"Eu acredito que várias das grandes universidades simplesmente não reconheceram que, se você faz um experimento em uma pessoa e obtém seu consentimento, você realmente tem a obrigação de tornar os resultados conhecidos," disse o professor Robert Califf, chefe da FDA (FoodDrug Administration). "Isto é fundamentalmente uma questão ética."
Acertos e erros da ciência
As novas regras visam coibir o grande número de ensaios clínicos que são realizados, mas nunca publicados.A maioria dos estudos que falham nos estágios iniciais nunca são divulgados, disse Christopher Gill, pesquisador de saúde da Universidade de Boston: "Do ponto de vista dos consumidores e da ciência, as falhas são tão importantes quanto os sucessos".
A não-divulgação impede que outros pesquisadores saibam o que não funciona, que outras equipes possam avaliar os métodos usados no teste, que as agências de financiamento saibam como o dinheiro público foi gasto, e que a população saiba o que realmente ocorre durante esses testes.
Alguns desses ensaios só vêm a público quando os resultados são catastróficos, como ocorreu recentemente na França, quando um fármaco em teste causou a morte de voluntários. Outro exemplo também recente foi uma reanálise dos dados do estudo que mostrou que, em alguns casos, a vacina contra a dengue pode fazer mais mal que bem, algo que não foi divulgado originalmente pela empresa farmacêutica.
Tortura dos números
Outras mudanças introduzidas pela nova legislação norte-americana incluem exigências de que os cientistas relatem detalhes sobre como eles planejaram os ensaios, descrevam as estatísticas que vão usar para analisar os resultados e revelem quaisquer alterações que ocorram no decorrer do estudo.
Isto deve ajudar a resolver um problema conhecido como "tortura" ou "trituração dos dados" - ou p-hacking - quando os cientistas usam várias técnicas estatísticas até encontrar uma que dê resultados positivos - e só essa é publicada.
Agora a expectativa é que os demais países possam começar a criar suas próprias legislações com base no exemplo norte-americano.
Fonte: Diário da Saúde
Fonte: Conselho Federal de Farmácia
Fonte da imagem: Manual do Mundo