Um experimento com um modelo animal do Alzheimer mostrou que um anti-inflamatório de uso comum pode ajudar na luta contra a doença, revertendo por completo a perda de memória a ela associada em camundongos. Os pesquisadores responsáveis, no entanto, destacam que ainda são necessários mais estudos e ensaios clínicos com humanos antes que o fármaco se torne um caminho alternativo para o tratamento do mal neurodegenerativo, que afeta dezenas de milhões de pessoas em todo mundo.

Conhecido como ácido mefenâmico, o composto faz parte do grupo dos anti-inflamatórios não esteroides (Aines) e é muito usado para aliviar dores na menstruação, vendido no Brasil como remédio genérico ou sob a marca "Ponstan". Esta, no entanto, é a primeira vez que o medicamento foi testado para combater as inflamações no cérebro ligadas ao Alzheimer, inibindo um processo chamado inflamassoma NLRP3.

No experimento, os cientistas liderados por David Brough, da Universidade de Manchester, Reino Unido, usaram 20 camundongos geneticamente modificados para desenvolverem sintomas como o do Alzheimer em humanos. Depois que os animais começaram a apresentar problemas de memória, metade deles recebeu o ácido mefenâmico, enquanto a outra metade serviu de grupo de controle, recebendo apenas um placebo. Após um mês de tratamento, a memória dos camundongos que receberam o ácido mefenâmico voltou aos níveis observados em animais sem a doença.

— Já temos evidências experimentais que sugerem fortemente que a inflamação do cérebro piora os sintomas do Alzheimer — justifica Brough, também principal autor de artigo que relata a experiência e seus resultados, publicado na edição de ontem do periódico científico "Nature Communications". — E nossa pesquisa mostra pela primeira vez que o ácido mefenâmico, um anti-inflamatório não esteroide simples, pode atuar numa via inflamatória importante, chamada inflamassoma NLRP3, que danifica as células cerebrais. Até agora, não havia nenhuma droga disponível para atacar esta via.

TEMPO DE DESENVOLVIMENTO

Segundo Brough, como o ácido mefenâmico já está disponível no mercado e sua toxicidade, farmacocinética e efeitos colaterais são bem conhecidos, o tempo para uma terapia com o composto chegar às vítimas de Alzheimer deve ser, em teoria, bem menor do que se fosse se desenvolver uma nova droga. Ele destaca, porém, que isso não quer dizer que já se pode receitá-lo.

— Muito mais trabalho precisa ser feito até que possamos dizer com certeza de que ele (o ácido mefenâmico) vai atacar o mal em humanos, já que modelos com camundongos nem sempre replicam fielmente as doenças humanas — diz. — Mas estamos preparando pedidos de autorização para fazermos ensaios prévios de fase II (uma das muitas etapas no desenvolvimento de novos medicamentos, que já pode envolver um grupo considerável de cobaias humanas) para provar o conceito de que esta molécula tem efeitos sobre a neuroinflamação em humanos.

Alerta semelhante foi dado por Doug Brown, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Sociedade do Alzheimer dos EUA:

— Estes promissores resultados de laboratório identificam drogas já existentes que têm o potencial de tratar o Alzheimer ao atacar uma parte específica da resposta imunológica, mas estas drogas não são desprovidas de efeitos colaterais e não devem ser tomadas para o Alzheimer neste estágio, pois primeiro precisamos de estudos com pessoas.

Fonte: O Globo

Fonte: Conselho Federal de Farmácia

Fonte da imagem: Express