Contras e pró-vacinação
"Apesar da retórica agressiva opondo 'anti-vacinadores' e 'pró-vacinadores', a maioria dos novos pais se situa em uma posição neutra em relação à vacinação dos seus filhos - ou seja, eles aceitam passivamente a vacinação, em vez de exigi-la ativamente."
"Mas, mesmo nesses casos, algum desconforto entre os pais é natural," argumentam dois psicólogos europeus em uma análise do crescente problema da oposição à vacinação que surpreende pela não tomada de partido na questão, como geralmente ocorre nas comunicações científicas e médicas.
Eles reconhecem que o ato da vacinação em si é contra-intuitivo, e requer confiança na medicina e no governo, "uma confiança que nem todos nós possuímos," escrevem Hugo Mercier (Universidade de Neuchatel, na Suíça) e Helena Miton (Universidade de Lyon, na França).
"A menos que haja uma ameaça ativa da pólio ou uma tosse convulsiva, eles têm que nos lembrar que injetar antígenos da doença em nossas crianças já chorosas é uma coisa boa," acrescentam.
Fontes confiáveis
Os dois pesquisadores então se dispuseram a estudar o que leva as pessoas a vacinarem seus filhos e quais são os obstáculos cognitivos que fazem com que as mensagens pró-vacinação sejam rejeitadas por alguns pais.
"Mesmo que as pessoas tenham fortes convicções antivacinação, isto não ocorre porque elas sejam ingênuas; elas têm razões que você pode entender quando você tenta ver as coisas de sua perspectiva," argumenta Mercier.
Em tempos de saúde, torna-se mais difícil experimentar e compartilhar os benefícios da vacinação, de forma que visões negativas - como o argumento "vacinas causam autismo" - são mais propensas a se espalhar, escrevem os dois em seu artigo.
Os contra-argumentos para estas alegações também levantam questões sobre quais fontes podem ser confiáveis, se as pessoas não vacinadas são significativamente mais propensas a ficar doentes, e os efeitos colaterais da vacinação. Isto faz com que as mensagens que têm como alvo a hesitação em vacinar, especialmente se forem provenientes de agências governamentais ou empresas farmacêuticas, sejam menos propensas a ter efeito.
Opiniões sobre vacinação
A comunidade também pode moldar opiniões sobre a vacinação. "Se você acredita em algo, e a ciência ou a sua comunidade não compartilham dessa crença, geralmente isto não é um estado confortável de se permanecer," diz Mercier. "Felizmente, na maioria dos casos, as comunidades adotam pontos de vista que são consensuais na ciência, mas há exceções, e se existem fortes pressões sociais, pode ser difícil mudar a mente de uma pessoa."
No longo prazo, medidas enérgicas para vacinar as crianças produzem pouco efeito em aumentar a confiança entre as instituições governamentais e as pessoas que têm visões antivacinação, observam os autores.
Eles acreditam que as agências e laboratórios farmacêuticos podem tornar-se mais confiáveis aumentando a transparência dos ensaios clínicos e se engajando em uma comunicação científica mais eficiente.
O artigo, intitulado "Obstáculos Cognitivos às Crenças Pró-Vacinação", foi publicado na revista científica Trends in Cognitive Sciences.
Fonte: Farmacêutica Curiosa