Volta e meia nos surpreendemos com a onipresença de bactérias – elas estão nos nossos intestinos, na nossa pele, nas nossas úlceras e nossos tumores de estômago. E, ao que parece, até nos nossos ataques de asma. Não dá ainda para afirmar com certeza, mas é razoável a chance de que esses micróbios tenham algum papel, se não em desencadear, ao menos em agravar e prolongar os estreitamentos dos brônquios que fazem tanta gente chiar e padecer com falta de ar.
É o que sugere um estudo publicado no periódico "The Lancet Respiratory Medicine". O trabalho foi realizado pelo Centro Dinamarquês de Asma Pediátrica, da Universidade de Copenhague. O grupo liderado por Hans Bisgaard tratou por mais de três anos 158 acessos de asma em 72 crianças. Metade delas recebeu doses orais do antibiótico azitromicina, e a outra metade, um preparado inócuo (placebo).
Os resultados foram surpreendentes. Os ataques dos meninos que tomaram antibióticos duraram em média 3,4 dias após o início do tratamento. No caso dos que receberam doses de placebo, os acessos se prolongaram por 7,7 dias. Ou seja, a medicação com antibiótico reduziu a menos da metade a duração do problema. Mais ainda: os pesquisadores dinamarqueses constataram que entrar com a azitromicina logo após o início dos sintomas de asma faz com que o ataque se encurte ainda mais.
Seria prematuro concluir que os antibióticos se generalizarão como tratamento padronizado para asma, no entanto, uma das razões para isso é que não se sabe ao certo como essas drogas agem para abreviar e abrandar os acessos. Os autores do estudo estão convictos de que bactérias instaladas no pulmão têm papel decisivo e de que matá-las com o antibiótico é a chave do sucesso. Mas, como não podem ter certeza absoluta de que o medicamento não exerça também um papel anti-inflamatório sobre os brônquios,recomendam no artigo que novas pesquisas investiguem essa possibilidade.
Além disso, antibióticos não são exatamente medicamentos sem efeitos colaterais. Entre outras coisas, eles alteram a flora intestinal das crianças, cujo desequilíbrio é cada vez mais associado com obesidade e até distúrbios mentais. Outros estudos relacionam o uso de antibióticos na infância com a incidência, na vida adulta, até mesmo de… asma.
Biomedicina é assim – cada estudo que abre uma porta revela que há outras mais por abrir. Não é motivo para perder a esperança nela, mas serve para desfazer a crença ingênua de que possa produzir a todo momento respostas e tratamentos definitivos para nossas aflições. O mundo em que vivemos, afinal, está povoado com uma miríade de bactérias cujas artes mal começamos a desvendar.
Fonte: Farmacêutico Antoniassi