Antidepressivos na gestação
O uso de antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, durante os dois trimestres finais da gravidez foi associado com um forte aumento do risco de autismo nas crianças por um novo estudo que está levantando controvérsias entre os especialistas.
Antidepressivos são largamente prescritos durante a gravidez para tratar a depressão, embora haja indícios de que antidepressivos na gravidez podem gerar má-formação nas crianças e até mesmo controvérsias de que os antidepressivos não funcionam.
O Transtorno do Espectro Autista é uma síndrome do desenvolvimento neurológico caracterizado pela dificuldade de comunicação e interação social e por padrões específicos de interesses e comportamentos.
Devido à série de estudos que têm mostrado riscos do uso de antidepressivos, os pesquisadores alegam que uma melhor compreensão dos efeitos a longo prazo no desenvolvimento neurológico das crianças é urgente, sobretudo quando os antidepressivos são usados durante a gestação.
Antidepressivos e autismo
A equipe analisou dados de 145.456 crianças, dentre as quais 1.054 (0,72%) tiveram pelo menos um diagnóstico de autismo, com uma relação de 4 para 1 entre meninos e meninas. A idade média do primeiro diagnóstico de autismo foi de 4,6 anos - as crianças foram monitoradas até a idade de 6,2 anos, em média.
Foram identificadas 4.724 crianças (3,2%) expostas aos antidepressivos ainda no útero - 4.200 (88,9%) expostas durante o primeiro trimestre e 2.532 (53,6%) durante o segundo e/ou terceiro trimestres da gestação.
O uso de antidepressivos durante o segundo e/ou terceiro trimestre da gravidez foi associado com um aumento de 87% no risco de autismo (32 crianças identificadas), não tendo sida observada associação entre o autismo e o uso de antidepressivos durante o primeiro trimestre da gravidez ou no ano anterior à gravidez.
Os resultados do trabalho da Dra Anick Bérard e seus colegas da Universidade de Montreal (Canadá) foram publicados no jornal médico JAMA Pediatrics.
Ressalvas
Outros pesquisadores, contudo, não estão tão convencidos dos resultados deste estudo. Roy Perlis, da Universidade de Harvard, por exemplo, disse em entrevista à revista Science que os autores desconsideraram o fato de que mulheres com depressão já apresentam um maior risco de terem filhos com autismo.
Assim, defende Perlis, não haveria como saber, a partir dos dados publicados pela equipe, se as crianças estavam em maior risco de autismo porque suas mães estavam tomando mais medicamentos ou porque elas tinham depressão mais grave.
Os pesquisadores reconhecem que o estudo não oferece uma palavra final sobre o assunto, destacando que a pesquisa não coletou informações sobre o estilo de vida das mães. Além disso, os dados usados forma retirados das prescrições médicas dadas às mães, que podem não refletir o uso real dos antidepressivos.
Fonte: Farmacêutica Curiosa