O hábito faz parte da rotina de muita gente. Para comer e beber sem moderação e não sentir a incômoda azia, é cada vez maior o número de pessoas que usa os chamados "inibidores da bomba de prótons", disponíveis no mercado com nomes como omeprazol, pantoprazol e lansoprazol, entre outros. As pílulas - facilmente encontradas nas farmácias e até em unidades básicas de saúde – são ingeridas diariamente para eliminar o mal-estar que vem do aparelho digestivo.
A adesão ao hábito de tomar medicamento para não sentir azia reflete na movimentação do mercado de medicamentos. As vendas dos produtos classificados na categoria "inibidores da bomba de prótons" cresceram 6,3% nos últimos 12 meses, passando de R$ 918 milhões, movimentados entre julho de 2013 e junho de 2014, para R$ 976 milhões, entre julho de 2014 e junho de 2015, conforme informações da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), a partir de levantamento realizado pela empresa IMS Health. Especialistas alertam que o costume pode trazer riscos à saúde, pois o uso indiscriminado pode mascarar sintomas de doenças mais graves, como o câncer.
Jaime Natan Eisig, médico assistente doutor da disciplina de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explica que estes medicamentos são indicados para aliviar sintomas de quem tem a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). "É a doença orgânica mais prevalente do tubo digestivo", diz.
O "refluxo" é causado principalmente por hábitos alimentares inadequados, o que inclui horários irregulares e consumo de alimentos que provocam os sintomas, além de características como obesidade e estresse. "Cada vez mais indivíduos referem sintomas sugestivos de DRGE", acrescenta.
Para identificar a doença e iniciar o tratamento, a endoscopia é o exame indicado. "É um procedimento que auxilia no diagnóstico das esofagites e está disponível em qualquer centro do País, acessível a muitos pacientes", afirma, lembrando que o aumento de casos diagnosticados também eleva o consumo do medicamento.
O médico alerta, porém, que a facilidade em adquirir os "inibidores" devido a falta de exigência de receita médica incentiva o consumo dos mesmos para aliviar qualquer sintoma de azia. Esse hábito, segundo ele, pode mascarar a médio e longo prazo o desenvolvimento de doenças mais sérias, como esofagites severas. "O paciente acha que o medicamento vai resolver o problema, mas a longo prazo pode ser prejudicado pela falta de um diagnóstico mais correto. Além disso, pode estar fazendo uso de um medicamento que nem sempre está indicado para os sintomas que apresenta."
Rogério Hoefer, farmacêutico do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim) do Conselho Federal de Farmácia (CFF), reforça que o uso de "inibidores da bomba de prótons" sem prévio diagnóstico e acompanhamento de um médico pode esconder sintomas. "É possível atrasar o diagnóstico e tratamento adequado de doenças graves, como o câncer do estômago, por exemplo", alerta.
O farmacêutico lembra que esta classe de medicamentos é indicada também no tratamento de outras doenças em que é necessário diminuir a hiperacidez do estômago, como úlcera e gastrite. "O uso prolongado, porém, está associado ao aumento do risco de câncer do estômago, infecções intestinais, pneumonia e anemia por deficiência de vitamina B12", adverte.
Eisig explica que, antes de tomar qualquer medicamento, é aconselhável procurar o médico sempre que houver sintomas frequentes de azia, regurgitação, dor no estomago, náuseas e estufamento. "Só o médico poderá fazer uma avaliação minuciosa e solicitar os exames apropriados", reforça.
Fonte: Farmacêutica Curiosa