Dois estudos publicados na revista Science Translational Medicine nesta quarta-feira (9) identificaram o papel de uma proteína produzida pelo vírus da dengue responsável por fazer os vasos sanguíneos se romperem nos casos de dengue hemorrágica. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de vacinas e medicação contra a versão mais fatal da doença. Segundo o Ministério da Saúde, até 1º de agosto deste ano, foram confirmadas 614 mortes por dengue no país, um aumento de 57% em relação ao mesmo período no ano passado. O Brasil registrou mais de um milhão de casos de dengue até o final de julho (1.350.406 casos notificados).
Até hoje não existe tratamento efetivo ou vacina para a dengue, que é a doença transmitida por mosquito que mais afeta as pessoas no mundo todo, chegando a 100 milhões de pessoas infectadas a cada ano. Calcula-se que a cada dez pessoas infectadas de uma a duas ficam doentes e a maioria dos pacientes desenvolve apenas os sintomas mais simples da doença, como febre branda e dor no corpo. Mas, nos casos em que a doença vira hemorrágica, o sistema imunológico fica fora de controle e desencadeia o sangramento dos vasos sanguíneos o que pode levar à insuficiência circulatória e até à morte.
Os cientistas ainda não tinham descoberto como a infecção avança para o estágio fatal. Desconfiava-se que a causa era a proteína NS1, usada pelo vírus para se reproduzir e invadir células do sistema imunológico. Assim, a equipe do pesquisador Paul Young, da Universidade de Queensland, na Austrália, estudou células do sistema imunológico de humanos e ratos e descobriu que a NS1 ativa diretamente uma superfície conhecida como receptor 4 (TLR4), ativadora da liberação de moléculas inflamatórias. A partir disso, eles usaram células endoteliais (dos vasos sanguíneos) alteradas apenas pela inflação provocada pelo NS1 e isso fez com que a barreira grossa de células começasse a sangrar. A partir disso, trataram ratos infectados com dengue com um composto que bloqueia as células TLR4 e isso reduziu a hemorragia significativamente.
Os resultados sugerem que a proteína NS1 se comporta como uma toxina viral da mesma forma que toxinas de bactérias ativam a TLR4 e desencadeiam infecções generalizadas. A comparação entre a síndrome do choque séptico e síndrome do choque associado à dengue deu base para testar remédios que estão sendo usados em pacientes com dengue e podem trazer avanços clínicos nos próximos dois anos, avalia Young.
Em outro estudo, Robert Beatty e seus colegas da Universidade da Califórnia, relataram que a vacinação com a proteína NS1 pode proteger ratos contra a dengue hemorrágica. Os pesquisadores conseguiram comprovar que proteínas NS1 dos quatro tipos de dengue afetam as células dos vasos sanguíneos e causam hemorragia. No estudo, os ratos que não foram vacinados morreram, enquanto os que foram vacinados com NS1 de cada tipo de dengue sobreviveram à infecção fatal causada pela dengue hemorrágica. A vacina mobilizou anticorpos específicos contra a proteína NS1 e bloqueou a hemorragia.
A dengue é causada por um vírus da família Flaviridae, transmitido de uma pessoa à outra através do mosquito Aedes aegypti. Existem quatro tipos diferentes de vírus da dengue: os sorotipos 1, 2, 3 e 4.
Fonte: Portal UOL