Um fato, infelizmente, é inegável: as bactérias vão se ajustando às mudanças em seu ambiente e desenvolvem mecanismos de resistência que limitam a efetividade dos antibióticos. Esse padrão é quase inevitável e ocorre por conta do uso indiscriminado desta classe de medicamentos. Daí vão surgindo as superbactérias, que são capazes de resistir aos principais e mais modernos antibióticos empregados, o que se configura um fator de extrema preocupação para as classes médica e farmacêutica e um imenso problema de saúde pública.
Mas nem sempre foi assim. A descoberta dos antibióticos é considerada uma das principais conquistas da humanidade, pois, além de aumentar significativamente a expectativa de vida, salvou pessoas de infecções que até então eram fatais. Os antibióticos descobertos no início do século XX foram tão eficazes no combate às infecções bacterianas que surgiu uma confiança geral de que estas doenças seriam erradicadas.
Puro engano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a resistência bacteriana é uma das principais ameaças à saúde humana, e isso não é mais uma previsão para o futuro, já existem situações em que algumas bactérias são resistentes à maioria (ou até a todos) os antibióticos disponíveis.
Então, a humanidade está perdida? Não! Há pesquisadores atrás de novas moléculas e também há um pesquisador, em especial, atrás de uma luz diferenciada que promete acabar com as bactérias. Esse protagonista não veio de um filme de ficção. Seu nome é Caio Guimarães, um pernambucano de 23 anos que criou uma lanterna capaz de matar bactérias. Ele integrou, em 2014, um grupo de pesquisa no Wellman Center for Photomedicine - laboratório que faz parte do programa Health Science and Technology (HST), que une a escola de medicina de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT).
Nesse projeto, em especifico, ele trabalhou com uma equipe multidisciplinar, constituída por médicos, físicos e outros especialistas. Quando se integrou à pesquisa, a equipe já havia descoberto que determinadas frequências de luz visível teriam a capacidade de matar uma gama especifica de bactérias. Porém havia alguns obstáculos para que pudessem usar suas descobertas como um tratamento. "Nosso projeto tinha apoio do exército americano, pois no Iraque e Afeganistão infecções causadas por bactérias multirresistentes emergiram como um problema logo nos primeiros estágios das operações militares", lembra o pesquisador.
Ao pensar nos soldados em campo de batalha, em missão, sem acesso a um equipamento caro e grande, como o laser que usavam em laboratório, fez Guimarães idealizar (e posteriormente confeccionar) emissores de luz portáteis e calibrados nas frequências específicas que precisava.
"O projeto começou investigando a Acinetobacter Baumannii, que é membro de um grupo de bactérias oportunistas que, além de já serem resistentes a inúmeros antibióticos, tem grande capacidade de desenvolver resistência a drogas rapidamente", explica. Ele começou investigando o efeito da terapia em infecções cutâneas em modelo animal vivo. Os resultados foram surpreendentes. Sem o uso de fotosintetizadores exógenos, ele foi capaz de erradicar, em apenas 62 minutos, infecções em que o único tratamento efetivo para lutar contra elas são drogas altamente tóxicas (Colistin). "Atualmente investigamos também outros tipos de bactérias gram negativas e o efeito do biofilme no tratamento", lembra Guimarães.
O pesquisador cita que o período de maturação desse projeto é incerto. Qualquer tratamento tem de passar por uma bateria de testes e há grande burocracia na sua implementação, principalmente em larga escala. "Temos parceiros em todo o Brasil e também em outros países, o que pode ajudar o processo, já que as legislações variam de nação para nação. Para agilizar, estamos desenvolvendo primeiro tratamentos não invasivos e que tenham pouco ou nenhum contato direto com o paciente. A ideia é que, de início, possamos prevenir infecções hospitalares", revela.
Guimarães comenta que sua decisão está baseada no fato de que, segundo a OMS, infecções hospitalares são a causa da morte de cerca de 100 mil pessoas por ano, atingindo uma média de 14% dos pacientes internados. "Então, se nessa primeira etapa de nosso trabalho conseguirmos diminuir em, ao menos, 40% os casos de infecções, estaremos salvando uma média de 40 mil pessoas por ano. E isso é só a primeira etapa do processo, levando em consideração que tratamentos de infecções já instaladas demorem a chegar à população", defende ele.
Guimarães já mostra seu brilhantismo com apenas 23 anos. Suas pesquisas estão apenas começando e deverão preceder outros estudos no mesmo sentido (dele e dos demais pesquisadores mundiais que caminham visando resolver a problemática da resistência das bactérias). Por isso, a pergunta que não quer calar: será o fim dos antibióticos?
Fonte: Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade