A Academia Americana de Pediatria (AAP) divulgou nesta semana novas orientações para a medicação das crianças, com foco em corrigir os erros de dosagem. Nos Estados Unidos, estima-se que, a cada ano, 70 mil crianças sejam internadas por causa de overdoses não intencionais de medicamentos. Principalmente para os menores, às vezes até um pequeno erro na dosagem pode trazer consequências severas.
O artigo começa dizendo que a AAP "quer que os pais guardem as colheres para os cereais – não para os remédios das crianças". Isso porque um dos enganos mais frequentes é que o cuidador confunda a dosagem, dando à criança em colheres o que foi prescrito em mL e vice-versa. Além disso, existe também o problema da falta de padrão no tamanho dos acessórios (as colheres de faqueiros antigos, por exemplo, gerlalmente são maiores) e da confusão entre os vários tipos (não é todo mundo que sabe qual é a colher de café, a de sopa ou a de sobremesa). "Uma colher de sopa normalmente equivale a três colheres de chá. Se um pai usa uma colher de tamanho errado, muitas vezes, isso pode levar a uma dosagem tóxica", declarou o pediatra Ian Paul, autor principal do artigo.
No Brasil, não há dados sobre a quantidade de crianças intoxicadas por medicamentos, mas temos o mesmo problema nas doses prescritas em colheres. "Muitas bulas ainda trazem a dosagem em mililitros com a medida correspondente em colheradas. Para o leigo, isso segmenta essa cultura de utilizar a colher", completa a pediatra Márcia Sanae Kodaira de Almeida, do Hospital Santa Catarina (SP).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não estipulou como cumpulsória a utilização de dosadores, nem a padronização da dosagem em mililitros. Normalmente, antibióticos e outros medicamentos com alto risco de intoxicação, como descongestionantes, já vêm com uma seringa ou com um copinho, mas isso ainda não é regra. "É preciso criar barreiras para que os erros de medicação tenham menos chance de acontecer. Isso começa pelos órgãos reguladores e pelas indústrias farmacêuticas até chegar aos pais", reforça Márcia.
Veja quais são as novas recomendações da AAP:
- Deve ser adotada uma linguagem padrão adotando mL como a única abreviatura apropriada para mililitro. Medicamentos líquidos devem ser dosados com quantidades arredondadas, como 0,1 , 0,5 , ou 1 mL;
- No rótulo deve ser claramente indicada a periodicidade das doses. Expressões em linguagem comum como "uso diário" devem ser usadas no lugar de abreviaturas médicas como "qd" (do latim, quaque die, uma vez por dia) - o que poderia ser interpretado como "qid" (no passado, esta era uma forma comum adotada pelos médicos para descrever dosagem quatro vezes ao dia);
- O pediatra deve revisar as doses, em mL, com as famílias, no momento em que são prescritas;
- Dispositivos de dosagem não devem ter marcações extras, que podem ser confusas; eles também não devem ser significativamente maiores do que a quantidade recomendada no rótulo, para evitar erros;
- Os fabricantes devem eliminar rótulos, instruções de dosagem e dispositivos que contenham unidades fora do sistema métrico.
Por aqui, enquanto não há uma regra clara, vale sempre perguntar ao médico qual é a dose em mililitros, caso ele prescreva em colher. Também é importante tomar cuidado redobrado com os remédios em suspensão, aqueles que precisam ser diluídos. "A água deve ser adicionada na medida certa. Se você dilui de maneira errada, a dose também ficará errada. É dever do pediatra explicar e tirar todas as suas dúvidas", completa Márcia.
Fonte: Revista Crescer