De 2004 a 2013, a participação do Brasil na corrente de comércio mundial de produtos farmacêuticos, medida pela soma das exportações e importações, cresceu 85,2%, para US$ 9,8 bilhões. O crescimento expressivo, porém, não foi suficiente para levar o país a uma posição relevante no ranking mundial, segundo levantamento recente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Com essa movimentação, o Brasil representou apenas 0,93% do US$ 1,056 trilhão comercializado no ano passado, ocupando assim a 22ª segunda posição a despeito de representar o sexto maior mercado interno para medicamentos de todo o mundo. A Alemanha lidera o ranking, com US$ 122,1 bilhões ou 11,55% de participação na corrente de comércio, seguida dos Estados Unidos, com fatia de 10,57% e US$ 111,7 bilhões.
"A exportação é o lado fraco. O Brasil tem uma representação pequena nas vendas externas mundiais", afirmou ao Valor o diretor de Acesso da associação, Pedro Bernardo. Isso se deve, principalmente, ao menor grau de internacionalização das empresas brasileiras, índices inferiores de inovação - em 2013, o país era o 64º colocado no Índice Global de Inovação, da Escola Mundial de Negócios (Insead) - e baixa competitividade, prejudicada tanto por questões específicas à indústria quanto pelo chamado custo-Brasil.
De 2004 para 2013, enquanto as exportações brasileiras de produtos farmacêuticos cresceram 305,3%, para US$ 1,605 bilhão, as importações avançaram 283,9%, para US$ 8,224 bilhões. É fato que houve avanço nas vendas externas, mas elas ainda representam apenas 0,3% do total mundial. "Isso é muito pouco para um país que é o sexto maior mercado", enfatizou o diretor da Interfarma.
Conforme Bernardo, os países que mais exportam medicamentos são também aqueles com melhor posição no ranking mundial de inovação, o que reflete elevados índices de estímulo a pesquisa e desenvolvimento. Como todo ciclo virtuoso, os líderes da corrente de comércio atraem ainda mais investimentos da indústria farmacêutica, ampliando a oferta de emprego qualificado e acesso a tratamentos mais sofisticados.
"O desenvolvimento de uma nova molécula pode exigir investimento de US$ 1 bilhão. As farmacêuticas vão escolher, é claro, os países que oferecerem melhores condições de mercado interno e exportação, com maior viabilidade de retorno do custo da inovação", ressaltou o executivo da entidade.
Para atrair esses investimentos, o país, na avaliação da Interfarma, deve repensar fatores que afetam a competitividade sistêmica, como juros elevados, carga tributária alta (em torno de 34% para a indústria farmacêutica), custos elevados de energia. "O somatório disso tudo é um produto mais caro no país e pouco competitivo no mercado externo", afirmou.
No campo da inovação, acrescentou, faltam estímulos para a execução de pesquisas clínicas e incentivos a projetos acadêmicos que estejam vinculados ao setor produtivo. Para levar adiante uma pesquisa clínica, são necessárias aprovações, entre as quais a da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não é incomum, porém, que o aval demore a sair no Brasil, que acaba perdendo o "momento" para outros países, acrescentou.
De acordo com a Interfarma, 30 países são responsáveis por 97,43% das exportações mundiais de produtos farmacêuticos, segundo dados de 2013. Entre os países que compõem os BRICs, com China e Rússia exportando mais que o Brasil. Na América Latina, México e Panamá também exportaram mais que o país.
Fonte: Blog da Pfarma