A osteoartrite (OA) é uma desordem articular que leva ao envolvimento global da articulação (osso subcondral, ligamentos, cápsula articular, membrana sinovial e músculos periarticulares). Os desfechos clínicos e patológicos de uma variedade de eventos biológicos e mecânicos levam à falência estrutural e funcional das articulações sinoviais. É a doença articular mais prevalente e é a principal causa de dor e desabilidade em indivíduos idosos. As alterações radiográficas são praticamente universais após os 60 anos de idade, mas as queixas clínicas ocorrem em torno de 20% dos pacientes. O diagnóstico é dado pelas queixas clínicas, os achados no exame físico e as alterações radiográficas. O tratamento atual é dividido em medidas não farmacológicas e farmacológicas.

Tratamento

O tratamento da osteoartite é multidisciplinar e envolve a participação de educadores, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e médicos (em geral reumatologistas, generalistas, geriatras e ortopedistas). Os objetivos do tratamento são: reduzir a dor, manter a função, melhorar a qualidade de vida, prevenir ou retardar a progressão para o dano estrutural articular e retardar ou evitar a artroplastia.

Ao analisarmos o paciente para o tratamento, devemos levar em consideração qual a localização do comprometimento articular (generalizada ou localizada em articulações específicas), se a doença apresenta sinais de "atividade" presente, como dor noturna, rigidez matinal prolongada e inflamação articular, e se na gravidade que leva em consideração existe indícios de dano estrutural articular, com deformidades e perda funcional.

O tratamento é dividido em farmacológico e não farmacológico.O tratamento não farmacológico engloba educação, fisioterapia, terapia ocupacional, controle da obesidade, acupuntura, auxílios, bengalas, palmilhas, órteses.

Tratamento farmacológico

Agentes tópicos

Os anti-inflamatórios não hormonais (AINH) tópicos são superiores ao placebo na melhora da dor e da rigidez dos pacientes com OA de mãos e de joelhos. Os efeitos adversos são mais locais, como irritação e alergias.

A capsaicina (Moment®), um extrato alcaloide extraído da pimenta, é superior ao placebo na melhora da dor. Existem problemas metodológicos com relação aos ensaios clínicos, não se consegue manter o paciente cego devido ao efeito adverso (queimação local).

Analgésicos

O uso do paracetamol pode aliviar a dor do paciente com osteoartrite, mas apresenta efeito analgésico inferior aos AINH. Em casos mais graves, na impossibilidade do uso dos AINH, pode ser necessário, nos pacientes que apresentam dor de moderada à dor intensa, o uso de analgésicos opioides como codeína, cloridrato de tramadol e oxicodona, lembrando que essa classe de medicamentos possui efeitos adversos frequentes, como náuseas, sonolência, obstipação, prurido, secura oral e, mais raramente, depressão respiratória e circulatória com hipotensão.

Anti-inflamatórios

Os AINH apresentam efeito analgésico superior ao paracetamol. Essa classe de medicamentos deve ser utilizada na menor dose terapêutica para alcançar os efeitos analgésicos desejados. Apresentam risco gastrointestinal, cardiovascular e renal e devem ser usados com cautela em pacientes idosos, sempre associados ao uso de protetores gástricos e com controle rigoroso da pressão arterial e da função renal.Usar apenas quando necessário é uma tendência atual, apesar de não existir estudo comparativo.

Drogas conrotetoras

Diacereína

A diacereína, uma antraquinona de origem vegetal, foi aprovada como tratamento de AO, em 1994, na França e é comercializada no Brasil desde 96. A indicação da diacereína está presente em 50% dos consensos, recomendações ou guias para o tratamento da OA de joelhos e quadris publicados na literatura médica. A efetividade da diacereína no controle dos sintomas da OA é discreta pela análise dos estudos presentes na literatura e incluídos na revisão sistemática da Cochrane Library. A possibilidade de proteção estrutural articular só foi demonstrada para os quadris. A dose ideal é 100 mg/dia. Estudos recentes (ECRDC) confirmam a não inferioridade da diacereína com relação aos AINH e o efeito residual do medicamento. Os efeitos adversos mais frequentes são: diarreia e sintomas relacionados, alteração da cor da urina e fenômenos alérgicos (rash, prurido).

Glicosamina

O sulfato de glicosamina é uma substância química de baixo peso molecular, cujo mecanismo de ação não está totalmente elucidado. A proposta terapêutica é inibir a progressão da degradação da cartilagem e estimular a formação de uma nova cartilagem. Os resultados dos ensaios clínicos randomizados versus placebo e da meta-análise da Cochrane sugerem que a glucosamina apresenta efeito benéfico no tratamento da OA, tendo sido superior ao placebo no tratamento da dor e da impotência funcional da OA. O sulfato de glucosamina 1.500 mg/dia também foi superior ao placebo com relação do desfecho preservação do espaço articular do compartimento tibiofemoral, como foi demonstrado em ensaio clínico randomizado com duração de três anos comparado com grupo placebo(55,56). O medicamento é seguro, sem nenhuma evidência de efeitos adversos importantes ou limitantes. A dose recomendada é de 1.500 mg/dia.

Sulfato de condroitina

Sulfato de condroitina 4 e 6 fazem parte das moléculas de proteoglicanos que integram a matriz extracelular da cartilagem e que contribuem para suportar a deformação. Existem controversas com relação à eficácia do sulfato de condroitina no tratamento da osteoartrite, tanto do ponto de vista sintomático como também como droga conrotetora. Recentemente foi publicado um ensaio clínico randomizado placebo controlado com 622 pacientes com OA de joelhos que utilizaram por 800mg de sulfato de condroitina 4 e 6 por um período de dois anos, cujo resultado observado foi uma maior preservação do espaço articular no grupo condroitina. Já a revisão sistemática com meta-análise (Reichenberch), que incluiu 20 ensaios clínicos (3.846 pacientes), revelou alto grau de heterogeneidade entre os ensaios clínicos (I2 de 92%) e quando análise dos dados foi restrita a 3 ECR com baixa heterogeneidade, o resultado final foi que o efeito sintomático da condroitina é mínimo ou não existente. O medicamento é seguro sem nenhuma evidência de efeitos adversos importantes ou limitantes. A dose recomendada é de 800 a 1200 mg/dia.

Difosfato de cloroquina e hidroxicloroquina

No Brasil são amplamente utilizadas por vários reumatologistas, apesar de poucos estudos terem sido realizados com objetivo de avaliar a efetividade. A utilização da cloroquina no tratamento da osteoartrite é fundamentada com base nos mecanismos de ação da droga, pela capacidade de inibição da interleucina-1 e das enzimas lisossomais, tento sua principal indicação a OA erosiva de mãos e na osteoartrite primária com comprometimento de múltiplas articulações com efeito sintomático na dor. Não podemos esquecer dos efeitos adversos oculares (maculopatia) e a ototoxicidade.

Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia