A primeira vacina neonatal do mundo está sendo desenvolvida pela Universidade do Porto, em Portugal. Destinada às mulheres, ela previne que a bactéria estreptococo do grupo B seja transmitida para os bebês no parto. Esse micro-organismo pode causar pneumonia, meningite e sépsis (infecção generalizada) no recém-nascido.
Se você ainda não ouviu falar nessa bactéria, saiba que ela está presente na flora intestinal de aproximadamente 20% da população, sem causar nenhum dano. Em alguns casos, há contaminação da parte genital e urinária da mulher. Caso ela esteja grávida, o bebê pode ser infectado principalmente no momento do parto, durante a passagem pelo canal vaginal. Atenção: isso não significa que a cesárea irá poupar seu filho do risco. "Se a bolsa romper, não há mais uma barreira de proteção entre o útero e a vagina. Com isso, a bactéria pode ascender e contaminar o feto", explica José Carlos Sadalla, ginecologista do Hospital Sírio Libanês (SP).
Mas fique tranquila: tomando os devidos cuidados, é possível preservar o bebê. O primeiro passo é fazer, entre a 34ª e a 35ª semanas de gestação, um teste ginecológico que detecte a presença do estreptococo do grupo B. É colhida uma secreção das regiões perianal e vaginal e feita uma cultura. Caso o exame acuse a presença da bactéria, avise seu obstetra e memorize essa informação. O tratamento só é feito cerca de 4 horas antes do parto – será ministrada uma dose de antibiótico (geralmente, penicilina) endovenoso. "O medicamento não pode ser dado durante a gestação, porque a bactéria tende a retornar, talvez até mais resistente", esclarece o ginecologista. Seguindo os cuidados de prevenção corretos, não há risco algum em se fazer parto normal.
É claro que nem sempre há tempo suficiente para dar o antibiótico com a antecedência recomendada. "Nos casos em que há rompimento de bolsa, nascimento prematuro ou histórico de contaminação, o antibiótico é dado o mais rápido possível. O mesmo vale para as mulheres que não fizeram o exame até o momento de dar à luz", esclarece Jurandir Passo, ginecologista especialista em medicina fetal do laboratório Delboni Auriemo (SP). Nessas situações de emergência, o bebê é monitorado por 72 horas – os especialistas analisam os exames de sangue e os sinais clínicos (febre, taquicardia) para detectar uma possível infecção.
Caso não sejam tomados os cuidados e haja a contaminação, as consequências para o recém-nascido são graves, principalmente para o prematuro. O sistema imunológico de qualquer bebê ainda não está maduro – a bactéria pode entrar na corrente sanguínea e tomar alguns órgãos, causando meningite, pneumonia ou, no caso mais extremo, sépsis, que é uma infecção generalizada.
Exatamente por se tratar de doenças tão perigosas, não deixe de fazer o exame durante a gestação. Mesmo que seja detectada a bactéria, o tratamento é muito eficaz e seu filho ficará protegido. A Universidade do Porto já cedeu os direitos de comercialização da vacina contra o estreptococo do grupo B para uma empresa de biotecnologia portuguesa. Os cientistas recomendam que a dose seja tomada por meninas adolescentes, mesmo que ainda não tenham a pretensão de engravidar, para que os anticorpos já sejam produzidos. "Ela ajudará a diminuir o risco de mortalidade, além de trazer menos custos do que o tratamento das doenças causadas pela bactéria", afirma Passos. O ginecologista Sadalla também vê boas perspectivas no desenvolvimento de imunização. "É como a vacina contra HPV: há meios de se evitar a doença, mas existir mais uma forma de prevenção é excelente", compara.
Fonte: IC Vacinas