O tratamento convencional para hepatite C – responsável por grande parcela dos casos de transplante e de câncer no fígado – é lento, cheio de efeitos colaterais e com eficácia baixa. Mas uma nova geração de drogas, mais eficazes e que provocam menos sofrimento para o paciente, promete alterar esse quadro.
Pela importância dos novos medicamentos, a FDA (agência que regula remédios nos EUA) colocou pelo menos quatro deles numa espécie de "fila rápida" no processo de aprovação neste ano.
Mais curtos, sem complicações graves e com praticamente 100% de eficácia, os novos tratamentos entusiasmaram os especialistas. Médicos de vários países, reunidos no congresso Hepatologia do Milênio, em Salvador, consideram que estamos próximos de uma revolução e da cura da doença.
"Os novos tratamentos têm potencial para desafogar os hospitais e liberar os especialistas para se concentrarem em outros problemas graves", avalia Raymundo Paraná, presidente do congresso e professor da Universidade Federal da Bahia.
A terapia convencional, que combina interferon e ribavirina, tem taxa de sucesso que varia entre 20% e 60%, uma vez que é comum que os pacientes desenvolvam resistência à medicação. O tratamento pode durar de seis meses a um ano e causa efeitos colaterais sérios, como náuseas fortes, anemia, fadiga e até alterações neuropsiquiátricas.
Na última década, entraram no mercado dois medicamentos, o boceprevir e o telaprevir, que ajudaram a elevar a taxa de sucesso para cerca de 80%, mas que ainda necessitavam do uso de um medicamento chamado interferon, responsável pelos efeitos adversos sérios.
As novas drogas antivirais, porém, não precisam mais desse medicamento. Em testes clínicos, elas têm obtido quase 100% de cura. O tratamento também é mais curto: dura 12 semanas.
Opção atual
Enquanto as mais novas moléculas não são aprovadas pelas autoridades regulatórias, uma primeira geração de remédios menos agressivos, sem o interferon, já está disponível nos EUA. O simeprevir e sofosbuvir têm alta taxa de sucesso e efeitos colaterais baixos.
No Brasil, os remédios aguardam aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Pacientes brasileiros têm se mobilizado na internet com pedidos de mais agilidade na análise. A doença é a principal causa de transplantes de fígado no país e atinge cerca 3 milhões de brasileiros.
"O custo dessas drogas, porém, é um problema. Pacientes que importaram o medicamento gastaram cerca de R$ 450 mil", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Edison Parise.
Não há previsão de custo no Brasil, mas especialistas esperam que o governo pressione para baixar os preços, tornando a droga acessível.
Fonte: Folha de S.Paulo