O ginkgo biloba é uma substância usada na medicina há mais de 1000 anos, sendo atualmente um dos fitoterápicos mais usados no mundo, devido às suas ações antioxidantes e seus alegados benefícios no tratamento de problemas de memória, falta de energia, falta de concentração, impotência sexual, entre outros.
Infelizmente, o fato de uma substância ser amplamente usada durante séculos não garante que a mesma seja realmente eficaz contra tudo que se apregoa, nem que a mesma seja isenta de efeitos colaterais e contraindicações. Portanto, o objetivo deste texto é abordar o ginkgo biloba de forma científica, mostrando aquilo que os estudos comprovaram ser verdade, o que é mito e o que ainda não está totalmente esclarecido do ponto de vista científico.
O que é ginkgo biloba
O extrato de ginkgo biloba é uma substância obtida a partir das folhas da árvore do Ginkgo, nativa da Coreia, China e Japão, mas atualmente presente em todo mundo, inclusive nas grandes cidades brasileiras. A árvore do ginkgo pode ultrapassar os 40 metros de altura e viver mais de 1000 anos.
O extrato de ginkgo biloba é atualmente uma das 10 ervas medicinais mais usadas em todo mundo. Este fitoterápico possui duas substâncias ativas consideradas as responsáveis por seus efeitos no nosso organismo: flavonoides e terpenos.
O ginkgo biloba é uma substância aclamadamente benéfica para as funções do cérebro, porém, sua real eficácia no tratamento de doenças cognitivas ainda não está totalmente esclarecida. Isso não significa, porém, que diversos efeitos e ações cerebrais do ginkgo biloba já não tenham sido desvendadas.
Estudos em animais e humanos já mostraram que a droga age diretamente nos neurotransmissores e oferece proteção aos neurônios por diversos mecanismos. O ginkgo biloba tem comprovadamente ação antioxidante, provoca vasodilatação dos vasos sanguíneos cerebrais, aumentando a perfusão de sangue no cérebro, previne a formação de coágulos e otimiza a utilização de glicose pelo cérebro.
Essas e outras ações já reconhecidas da droga fornecem a base teórica para utilização do ginkgo biloba no tratamento de diversas doenças neurológicas. Todavia, a medicina moderna é baseada em evidências. Não basta haver uma base teórica por trás dos tratamentos, é preciso provar que essas ações são, na prática, eficazes contra as doenças. Não é porque o ginkgo biloba aumenta a perfusão de sangue no cérebro e previne coágulos que podemos afirmar que ele é eficaz na prevenção e tratamentos do AVC, por exemplo. Muitas vezes, uma droga possui forte embasamento teórico, mas quando vamos à prática, o seu uso não demonstra nenhum efeito benéfico no tratamento das doenças que supostamente elas seriam eficazes.
Portanto, não basta o ginkgo biloba ter diversas ações supostamente benéficas no cérebro. Para que o seu uso seja indicado no tratamento e na prevenção de doenças, ele precisa provar que realmente traz benefícios reais ao paciente. Por isso, é importante estudar a droga separadamente para cada tipo de doença.
Doenças para as quais o ginkgo biloba já foi estudado como opção de tratamento
Ginkgo biloba no tratamento do Alzheimer e outras demências
Apesar de alguns estudos isolados que demonstravam pequena melhora cognitiva dos pacientes com Alzheimer que fizeram uso de Ginkgo biloba por pelo menos 6 meses, uma grande revisão feita em 2007 com 35 estudos chegou à conclusão que os trabalhos anteriores apresentavam falhas metodológicas e tinham estudados grupos muito pequenos de pacientes. A conclusão desta revisão sistemática dos principais estudos foi de que não há dados suficientes para afirmar que o Ginkgo biloba seja superior ao placebo no tratamento do Alzheimer. Quando comparada às drogas habitualmente usadas no tratamento da demência, o ginkgo biloba apresenta resultados inferiores.
Um outro estudo publicado em 2008 que acompanhou durante 8 anos mais de 3000 idosos mostrou que o uso diário de ginkgo biloba não apresentou nenhuma evidência de que a droga seja superior ao placebo na prevenção da demência. Portanto, não há evidências científicas que suportem o uso do ginkgo biloba para tratamento ou prevenção das demências.
Ginkgo biloba para perda de memória e problemas de concentração
Historicamente o ginkgo biloba sempre foi indicado como um bom tratamento para melhorar a memória, a concentração e o grau de atenção, principalmente nos idosos. Infelizmente, os estudos também têm demonstrado que a droga não é superior ao placebo nestes casos. Não há, portanto, nenhum embasamento científico para se indicar o ginkgo biloba para melhorar a memória dos pacientes idosos.
Doenças que parecem responder ao uso da ginkgo biloba
Apesar das decepções com a falta de eficácia do ginkgo biloba no tratamento da demência, das falhas de memória e de outras funções cognitivas do idosos, há uma série de problemas que parecem melhorar com o uso do extrato. Entre aqueles que possuem estudos científicos atestando resultados positivos, podemos citar:
- Vertigem
- Disfunção erétil
- Depressão
- Distúrbios de ansiedade
- Problemas circulatórios dos membros inferiores (eficácia pequena, apenas um pouco superior ao placebo)
Em geral, o ginkgo biloba não se mostrou, à luz dos estudos científicos, como uma droga com grande eficácia no tratamento de nenhuma doença importante. Na maioria do casos, a eficácia é apenas um pouco superior a do placebo.
Por outro lado, a sua baixa taxa de efeitos colaterais e o potencial benefício, mesmo que leve, em alguns casos, fazem com que o seu uso seja indicado para alguns pacientes.
Efeitos colaterais e contra-indicações do ginkgo biloba
O ginkgo biloba é uma droga com baixíssima taxa de efeitos adversos. Quando estes ocorrem são geralmente náuseas, dor abdominal, diarreia ou dor de cabeça.
Entretanto, a ação inibitória sobre as plaquetas pode aumentar o risco de sangramento em algumas situações. A droga não deve ser usada em pacientes com elevado risco de hemorragias. Seguindo a mesma lógica, em pacientes que serão submetidos a atos cirúrgicos, sugere-se a suspensão do ginkgo biloba pelo menos 36 horas antes da operação.
O ginkgo biloba pode aumentar o risco de sangramento se usado concomitantemente com outras drogas que atuam sobre as plaquetas ou outros fatores da coagulação, como aspirina, anti-inflamatórios não esteroides, heparina ou varfarina.
Devido à falta de estudos clínicos em grávidas comprovando sua segurança, atualmente não se recomenda a utilização do ginkgo biloba durante a gravidez ou aleitamento.
Pacientes com história de crise convulsiva ou epilepsia também devem evitar o uso de ginkgo biloba, pois há esporádicos relatos de que a droga possa facilitar a ocorrência de crises epilépticas. Há também a possibilidade do ginkgo biloba interagir e diminuir os efeitos dos anticonvulsivantes.
Não evidências de que o ginkgo biloba interaja com os efeitos da pilula anticoncepcional.
Fonte: MD.Saúde