Um dos maiores marcos da Medicina moderna foi o desenvolvimento da insulina pelos pesquisadores canadenses Banting, Best, MacLeod e equipe. Foram condecorados com o Prêmio Nobel de Medicina e certamente isto mudou a vida dos pacientes diabéticos desde então.

A insulinoterapia é a base do tratamento do diabetes tipo 1 e também pode ser necessária para os pacientes com diabetes tipo 2.

Entretanto, quase 100 anos após o desenvolvimento da insulina, um dos maiores mitos é a sua aplicação subcutânea. A história do tratamento do diabetes mostra imagens de seringas enormes, de vidro, reaproveitáveis e de aplicação realmente dolorosa.

Atualmente as seringas são produzidas com agulhas menores e mais finas e as canetas de aplicação promovem uma experiência ainda mais confortável na aplicação subcutânea das insulinas.

Muitos pacientes porém são ainda muito resistentes e muitos têm real pavor às injeções diárias.

Entre 2006 a 2007 foi lançada a primeira insulina inalada chamada EXUBERA. Por questões comerciais e também por questões de segurança ela foi retirada do mercado em cerca de 1 ano após seu lançamento.

Em 27 de junho de 2014 o rigoroso órgão americano que avalia segurança e eficácia de medicamentos, o FDA, aprovou uma nova versão da insulina inalada com nome comercial de AFREZZA, produzida por uma empresa chamada MannKind. O gasto com pesquisa foi de 900 milhões de dólares.

AFREZZA é uma insulina humana em pó de ação ultrarrápida. Em tese ela seria equivalente às insulinas de ação ultrarrápidas existentes no mercado como a Humalog, Apidra ou Novorapid só que administrada via inalatória.

Sua ação se inicia após 15 minutos da inalação do pó e tem pico de ação após cerca de 50 minutos. Sua ação termina completamente após cerca de 2,5 horas. Por isso, ela deve ser administrada como uma insulina prandial, ou seja, a ser usada quando da alimentação para reduzir a glicemia pós-prandial. O correto é inalá-la imediatamente antes das refeições.

Como acaba de ser aprovada no mercado americano e ainda não foi sequer aprovada no Brasil, a segurança em longo prazo é incerta na prática clínica diária. Nos estudos clínicos pré-lançamento mostrou-se segura e bem tolerada. Os efeitos colaterais mais notificados pelos usuários foram tosse (25%), irritação a garganta (5,5%) e dor de cabeça (4,7%).

Por questões de segurança seu uso é somente indicado para maiores de 18 anos. Os estudos em crianças estão sendo conduzidos e esperamos sua liberação para crianças nos próximos anos. É ainda contraindicada em pacientes doenças pulmonares crônicas como enfizema, asma e bronquite. Obviamente não deve ser usada por pessoas fumantes.

Nos estudos prévios ao lançamento, usuários de AFREZZA tiveram discreta redução da função pulmonar. Por isso, exames como espitometria devem ser feitos antes do início do uso, após 6 meses e em segura repetidos anualmente para motorizar eventuais os efeitos adversos pulmonares. Ainda não se sabe se este medicamento é capaz de provocar câncer de pulmão e estudos de segurança estão em andamento.

Infelizmente a AFREZZA não pode ser considerada a cura do diabetes, pois medidas como dieta, exercícios e medição da glicose precisam ser feitos. Mas sem dúvida trata-se de um grande avanço para uma melhor qualidade de vida para os pacientes diabéticos.

Para saber mais informações sobre a AFREZZA basta acessar o site da empresa MannKind no site clicando aqui


Informações do Autor

Dr. Carlos Eduardo Barra Couri

PhD em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP

Pesquisador da Equipe de Transplante de Células-tronco - USP - Ribeirão Preto