O anticoncepcional oral, popularmente conhecido como pílula anticoncepcional, é um método de controle de natalidade muito difundido, usado em larga escala pela população feminina há várias décadas. Se usado corretamente, sua taxa de sucesso chega aos 99,9%. Entretanto, na vida real, quase 8% das mulheres que usam anticoncepcionais acabam engravidando, devido a erros no modo de tomar o medicamento.
Além da forma correta de tomar o anticoncepcional, é importante ter em mente que algumas drogas interagem com a pílula, modificando seus efeitos e sua eficácia.
Há muitos mitos e muita confusão em relação à interação dos anticoncepcionais com alimentos e medicamentos.
Interação entre anticoncepcionais e antibióticos
Para boa parte da população, o grande vilão dos anticoncepcionais são os antibióticos. A ideia de que os antibióticos cortam o efeito da pílula é muito difundida, e durante muito tempo, a própria classe médica atuou de forma a propagar essa informação. Sempre houve relatos esporádicos de falhas do contraceptivo hormonal após uso de antibióticos, o que servia para dar uma suposta sustentação científica para o fato.
Porém, na última década, vários estudos foram conduzidos de forma a avaliar a real interação entre anticoncepcionais e antibióticos. Os resultados foram, de certo modo, surpreendentes.
Os únicos antibióticos que realmente cortam o efeito da pílula são a Rifampicina e o seu derivado rifabutina, drogas usadas habitualmente contra a tuberculose, hanseníase (lepra) e na profilaxia da meningite. A rifampicina reduz os níveis sanguíneos de Etinil estradiol e Progestina, as formas sintéticas do estrogênio e da progesterona presentes nos anticoncepcionais, fazendo com a eficácia da pílula fique reduzida. Mulheres que precisam usar esta droga devem escolher um método contraceptivo não hormonal, como preservativos.
Em relação às outras classes de antibióticos não houve comprovação científica de que qualquer uma delas possa ter efeitos na eficácia da pílula.
Até alguns anos atrás, recomendava-se cautela na associação de anticoncepcionais e antibióticos, como as tetraciclinas, metronidazol e os derivados da penicilina, como amoxicilina e cefalosporinas, pois existiam relatos esporádicos de anulação do efeito da pílula por esses antibióticos. Todavia, como já dito, estudos mais recentes não conseguiram comprovar esta relação. Por isso, atualmente, não se recomenda nenhum tipo de cuidado para as mulheres que usam antibióticos e anticoncepcionais ao mesmo tempo (exceto, claro, no caso da rifampicina).
Para que não reste dúvida, não há nenhuma prova científica que antibióticos como, azitromicina, amoxicilina, ciprofloxacino, norfloxacino, levofloxacino, sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim), metronidazol, minociclina, tetraciclina, cefalexina, penicilina, nitrofurantoína, fosfomicina, claritromicina, etc., provoquem perda da eficácia dos anticoncepcionais hormonais, sejam sob a forma de pílula, injeção, adesivo ou implantes.
Portanto, a difundida ideia de que antibióticos cortam o efeito dos anticoncepcionais é falsa na imensa maioria dos casos.
Interação entre anticoncepcionais e álcool
O consumo regular de álcool (etanol) causa aumento dos níveis de estradiol, podendo potencializar os efeitos colaterais a longo prazo dos anticoncepcionais, como tromboses e neoplasia de mama. A taxa de metabolização do álcool também fica reduzida em quem toma esses hormônios, fazendo com que o mesmo circule no sangue por mais tempo.
Interação entre anticoncepcionais e anticonvulsivantes
Drogas usadas no tratamento da epilepsia e da convulsão podem diminuir os efeitos dos anticoncepcionais. Entre eles, podemos citar:
- Fenitoína
- Fenobarbital
- Carbamazepina
- Primidona
- Topiramato
- Oxcarbazepina
Felizmente, existem outras classes de anticonvulsivantes que podem ser usadas juntos com os anticoncepcionais orais sem risco de interação. São eles:
- Gabapentina
- Lamotrigina
- Levetiracetam
- Tiagabina
- Ácido valproico
Interação entre anticoncepcionais e anti-hipertensivos
Não existem problemas maiores nesta associação, pois os anti-hipertensivos não cortam os efeitos da pílula.
Os pacientes que usam o diurético espironolactona ou os anti-hipertensivos da classe dos inibidores da ECA, como ramipril, enalapril e lisinopril, podem apresentar uma taxa um pouco maior de potássio no sangue. Em geral, uma correção da dose dos medicamentos é suficiente para controlar esta alteração.
Outras interações dos anticoncepcionais
Derivados do ácido retinoico, como a isotretinoína (Roacutan) podem reduzir a eficácia da pílula anticoncepcional. Pacientes sob tratamento com Roacutan devem usar, além da pílula, um método contraceptivo complementar, como a camisinha.
O antifúngico Fluconazol não interfere na eficácia da pílula, mas ele aumenta os níveis sanguíneos de estrogênio quando usado junto com anticoncepcionais orais.
A associação de anticoncepcionais com o anticoagulante Varfarina deve ser feita com cuidado, pois a pílula diminui o efeito desta droga.
Corticoides, como a prednisona e a prednisolona, não cortam o efeito, mas podem ter seus efeitos colaterais potencializados pela associação com a pílula anticoncepcional.
Antirretrovirais usados no tratamento da aids, como Nelfinavir, Nevirapine, Ritonavir, podem cortar a eficácia dos anticoncepcionais. De qualquer modo, por motivos óbvios, os paciente portadores do HIV não devem ter relações sexuais sem o uso de preservativos, o que de certo modo atenua o risco de gravidez por falha da pílula.
As seguintes drogas também não apresentam evidências de redução da eficácia dos anticoncepcionais hormonais:
- Antidepressivos, como paroxetina, sertralina, escitalopram, citalopram ou fluoxetina
- Antivirais, como aciclovir
- Antidiabéticos orais ou insulina
- Benzodiazepinas, como diazepam, clonazepam, alprazolam
- Medicamentos para controle do colesterol, como sinvastatina, atorvastatina ou rosuvastatina
- Anti-inflamatórios ou aspirina
- Analgésicos, como dipirona ou paracetamol
- Sibutramina
- Diuréticos
- Omeprazol
Fonte: MD.Saúde