O farmacêutico Lucas Ercolin é um dos poucos brasileiros que tiveram a chance de atuar com trabalho humanitário, na região do Oriente Médio. Responsável Técnico da Missão Iraquiana da Première Urgence Internationale, uma organização francesa, o paulista, de Piracicaba, atua há cerca de um ano no Norte do Curdistão Iraquiano. Ele trabalha na logística de atendimento a pessoas que precisaram fugir de suas regiões de origem dentro do próprio país. São os chamados deslocados internos. Grupos que deixaram suas casas devido às diversas guerras e crises nas últimas décadas, como relata Lucas. A missão atende mais de 70 mil pessoas em diferentes regiões do país.
"Muitos problemas aconteceram. Então a gente teve a invasão dos Estados Unidos, em 2003, e depois teve o Estado Islâmico. E aqui é um país que tem terremoto, que tem deserto. Então, há muita necessidade humanitária. Para mim, pessoalmente, é uma sensação muito boa saber que eu estou usando o meu conhecimento e as minhas habilidades para ajudar algumas das pessoas mais necessitadas do planeta, que estão realmente numa situação vulnerável e o que eu posso fazer aqui realmente ajuda um grande número de pessoas".
Diferentemente de outras localidades do país, a cidade de Erbil, onde Lucas está alojado, possui uma estrutura comum às cidades de médio porte do Brasil. De lá, ele coordena licitações e a distribuição de produtos de saúde, como medicamentos, que são fornecidos por doadores globais. "Eu não trabalho em contato direto com o beneficiário. Então, eu não estou no campo. Eu vou para campo eventualmente quando tem alguma necessidade ou quando eu preciso fazer alguma reunião com alguém que está no campo. No geral, meu trabalho é no escritório. Eu trabalho na coordenação, em Erbil, e de lá eu atuo remotamente com os farmacêuticos centrais e no campo".
O trabalho segundo Lucas, é principalmente a organização da cadeia logística, que inclui fazer licitação, garantir que os medicamentos e todos os outros itens cheguem aonde eles têm que chegar, em tempo razoável, e tentar enfrentar todas as dificuldades burocráticas. Os beneficiários precisam de todo tipo de auxílio humanitário, mas a saúde é um dos grandes desafios. Cólera, complicações alimentares e no parto, infecções de todo tipo estão entre os principais problemas. E o trabalho não é fácil, relata o farmacêutico.
Entre as dificuldades, Lucas descreve: "primeiro é a questão do próprio medicamento. A gente não consegue confiar naquilo que é ofertado no país. Então, significa que todo o medicamento que a gente usa no Iraque é importado. Nós temos algumas distribuidoras na Europa, que é de onde a gente compra. Mas, a limitação não acaba aí. Primeiro, a gente só faz uma licitação por ano e os medicamentos demoram bastante tempo para chegar. Diferentemente do Brasil e de outros países desenvolvidos, a regulação aqui não é estável. Então, de um dia para o outro todas as regras mudam, como regras para importação e para o transporte dentro do país. Chegou a ter até quatro meses que a gente não conseguia mover o nosso estoque para o campo para onde as pessoas precisam.
Formado em Farmácia pela Universidade Estadual Paulista, Lucas chegou a fazer intercâmbio na Universidade de Coimbra, em Portugal. É membro Honorário Vitalício da Federação Internacional dos Estudantes de Farmácia e da Federação Internacional de Farmácia.
Fonte de texto: Conselho Federal de Farmácia